Depois da passagem pelo Optimus Alive o ano passado a expectativa para o primeiro concerto em nome próprio (e sala fechada) e Mumford & Sons era alta. Os britânicos que voltaram a pôr o folk na moda tinham dois excelentes álbuns para apresentar e um público ávido: antes das 20h, hora de abertura de portas, a rua em frente ao Coliseu de Lisboa estava apinhada.
Depois de duas bandas na primeira parte (o multi-instrumentista Jesse Quen, de som simples e a tender para o acústico e as norte-americanas Deep Vally, a fazer lembrar uns White Stripes ‘punk’), um encalorado Coliseu já só batia os pés, palmas e pedia música. Quando Marcus Mumford, o vocalista que também dá nome à banda, surge finalmente em frente ao microfone e alinhava umas palavras de português o público (jovem e com muita energia para gastar) entregou-se à banda e não se distraiu durante a hora e meia seguinte.
Os Mumford & Sons arrancaram apostando naquilo que mais os caracteriza: o folk, os banjos, as guitarras clássicas, o violoncelo e as percussões, acrescentando instrumentos de sopro e violino. Estreando-se com “Babel”, que dá título ao segundo álbum da banda, os Mumford rapidamente passaram para “The Cave”, um dos ‘singles’ do álbum de estreia “Sight no More”, foi trunfo usado logo no início e resultou, com o público ao rubro, sem parar de saltar e cantando a plenos pulmões, tão alto (e por vezes tão descontrolado) que abafava a vozes no palco.
“White Blank Page” levou algumas meninas à histeria (como se estivesse em palco uma boys band dos anos 90) e nem “Holland Road” acalmou os ânimos. A sala esgotada e aos pulos cantada todas as músicas do início ao fim, ao ponto de por vezes o grupo não se ouvir. Foi, de resto, o único “mas” do concerto. Uma hora e meia irrepreensível e com bom diálogo com o público mas por vezes a exigir concentração para ouvir a banda e os instrumentos, de tão alto o público cantava.
Em alguns momentos, contudo, e passando o descontrolo inicial conseguiu-se uma boa união cantando com a banda. “Thistle & Weeds” trouxe-nos um momento mais negro e introspectivo, conseguido em parte com a voz praticamente ‘a capella’ e com o efeito do jogo de luzes: os Mumford fizeram um estendal de lâmpadas no Coliseu, que quando acendiam alternavam entre o amarelo, o vermelho e o azul, consoante a atmosfera que queriam criar. O efeito resultou bem em “Thistle & Weed”, criando-se um efeito quase fantasmagórico, prolongado com “Ghosts that we Knew”, onde o violino criou um dos momentos mais bonitos e arrepiantes do concerto (apesar de volta e meia se continuarem a ouvir gritos descontrolados).
Passado uma hora, e depois de “Little Lion Man” ter levado algum público sub-18 a ensaiar um ‘moche’ meio desorientado, os Mumford despedem-se chamando ao palco as bandas que tocaram no início da noite, numa ‘cover’ cheia de soul que mostrou o potencial do grupo além do folk. E meia hora depois despedem-se de vez, com “I Will Wait”, single do segundo álbum e que levou novamente o público a cantar e dançar como se o concerto tivesse acabado de começar e não se sentisse o cansaço das últimas horas. Marcus, com um arrombo de banda rock, partiu a guitarra e a bateria também ficou parcialmente destruída. Por tocar ficaram pelo menos dois temas incontornáveis, “Sight no More” e “Hopeless Wonderer”, a deixar apetite para a próxima visita que, prometeu a banda, será muito em breve.
SETLIST
Babel
The Cave
Whispers in the Dark
White Blank Page
Holland Road
Timshel
Little Lion Man
Lover of the Light
Thistle & Weeds
Ghosts That We Knew
Awake My Soul
Roll Away Your Stone
Dust Bowl Dance
Encore
Baby Don’t You Do It
(Marvin Gaye cover) (with Deap Vally) (Jesse Quin on drums)
Winter Winds
I Will Wait
(lamentamos mas por motivos de doença não foi possível ao nosso fotógrafo exercer a captura de imagens para o artigo)