
Os concertos prometidos para a noite de 5 de fevereiro no Salão Brazil faziam prever headbanging, abano das ancas e, claro, saltos na plateia. Com Modernos a abrir com o seu garage rock banhado em sol e, depois, Salto a conduzir a noite por entre terrenos feitos de um incrível dance pop-rock, com algumas surpresas pelo meio, a festa fez-se feliz e bem-disposta e todos saíram a nadar melhor.
Foi então, às 22h45, quando Tomás Wallenstein, Salvador Seabra e Manuel Palha entraram em palco, que o rock começou a brotar dos amplificadores que já há algum tempo flirtavam com os que, ansiosamente, o esperavam. Com uma forte e marcada bateria, da escola motorik, o concerto abriu com «Só Se Te Parecer Bem II» e seguiu por entre as várias músicas de #1 e #2, com direito a jams e músicas dedicadas ao cabeleireiro egípcio, Mustafa («Dia de Sol»). Já próximo do final da sua atuação, os Modernos, com «Casa a Arder» (que, sem direito a paragem, seguiu para «Panado Cister»), fizeram o que fazem melhor: o power-trio, com toda a sua energia, puxou da distorção e das guitarradas desenfreadas pondo muito boa gente a saltar. Foi o ponto alto deste concerto com sabor a terras mais solarengas, que incendiou as almas jovens e que deixou todos de sorriso na cara e prontos para a festa que se seguiria.
Não tinha passado muito tempo desde o final do concerto dos Modernos quando Guilherme Tomé Ribeiro, Luís Montenegro, Tito Romão e Filipe Louro aka Salto entraram em palco, mas foi o suficiente para deixar de poder ter a mochila às costas, tal foi o aumento do número de pessoas para assistir ao concerto «principal» da noite.
Depois de um instrumental de abertura, o concerto dos Salto começou com «Saber Ser», logo a por toda a gente a dançar e seguiu, sem parar, para o single de estreia, «Deixar Cair», que pôs, logo ali, a plateia nas mãos do grupo da Maia. O resultado não podia ter sido melhor: o público foi respondendo sempre com os seus melhores movimentos de dança à magia da banda, que compeliu mesmo os pés de chumbo a não estarem parados e a dançarem sem preocupações, numa boa disposição e felicidade contagiantes; claro que as cordas vocais também só tiveram direito a descanso nas músicas novas, porque nas restantes trabalharam incessantemente.
A noite seguiu e, após a Flume/Chet Faker-iana «Sem 100», foi apresentada a primeira música nova da noite, «Selva». E, não fazendo desdém ao nome, esta fez-se apresentar com um som tropical e fresco, uma pop envolta num ambiente psicadélico, ainda com um pé na aura electropop/dance-rock que caracteriza o som que, até agora, conhecemos aos Salto. Aqui reside a principal surpresa da noite. Foi-se tornando claro, ao longo das várias músicas novas que apresentaram, que o novo álbum Mar Inteiro apresentará uma sonoridade diferente daquela que tem sido empregada pela banda, um som fresco e renovado, que abre portas a novos caminhos. Há uma maior aposta em guitarras que, cheias de efeitos, e em articulação com teclados espaciais e longos instrumentais, tornam difícil a dissociação deste novo som com a palavra «psicadélico». A surpresa foi muito agradável e deixou em muitos um bichinho que, certamente, irá gostar de descobrir estes novos, mas não mudados, Salto.
A festa continuou e, pelo meio dos instrumentais electrónicos «888:88» e «Arcade», das incrivelmente catchy «Poema de Ninguém» e «O Teu Par» ou ainda do novo single (que revela a tal nova sonoridade da banda) «Mar Inteiro», a banda esgotou todas as suas canções. Assim, o concerto chegou ao final da sua primeira parte, com «Por Ti Demais» a incendiar a pista de dança. No final, a banda tentou sair, mas foi impedida por um público que só queria mais. Então, regressados ao palco, atiraram-se de cabeça para um instrumental com uma estrutura kraut, mas uma sonoridade mais aberta que a caracteriza este género musical. Algures no meio desta jam, subiram ao palco os Modernos que, sem qualquer preocupação, acederam a partilhar o palco com os «gajos mais cool do norte», como antes tinham dito. Nesta celebração da música nacional, Guilherme Ribeiro entregou a guitarra a Tomás Wallenstein e assumiu o papel de MC, Salvador Seabra tomou controlo do sampler e Manuel Palha foi para os teclados. Ali, todos juntos, deixaram toda a gente a dançar descontroladamente durante uns bons minutos. No final deste instrumental, houve direito a bis de «Mar Inteiro». Terminada, pela segunda vez, a música, o concerto chegou mesmo ao fim, tendo Luís Montenegro afirmado «Agora é que é, já tocámos tudo».
Assim, entre sorrisos, acabava esta belíssima aula de natação sincronizada, que deixou todos ofegantes, mas mais leves, felizes e cheios de excelente música nos ouvidos. Uma noite que nos dá orgulho na nova geração de músicos portugueses.
Fotos: Mónica Tomaz