Ele afirma que é uma “rockstar cool” (disse-o no concerto em Lisboa). E não se pode dizer que não tenha razão. Junta-se a isso alguma malandragem na atitude, o ‘flirt’ com o público feminino encostado ao palco e uma entrega e energia que não se me medem em quantidade de público; os fãs, ou curiosos, que estiveram sexta-feira à noite no TMN não enchiam a sala, mas Miles Kane – todo vestido de preto e envolto durante grande parte do concerto num cenário de luzes vermelhas – criou um “inferno” como se estivesse arrebatado por milhares de espectadores.
O britânico deixou desde logo claro “ao que vinha”. Entrou de braços abertos aos primeiros acordes de “You’re Gonna Get it” e, a partir daí, até ao primeiro momento intimista da noite – com “Take the Night From Me” e “My Fantasy”, ambos do primeiro álbum a solo Colour of the Trap (2011), foi sempre em crescendo; com muito rock, muita guitarra bem tocada. “Rearrange” deixou bem evidente que estavamos perante muitos fãs dedicados, que cantam em sintonia com a banda e são incansáveis a saltar, naquele que foi o primeiro ponto forte da noite; Kane apresentou o tema com um “Lisbon you rearrange me!”, quase a soar a desafio… no final ter-se-á certamente convencido das suas próprias palavras.
Até à saída para o encore, o britânico, notável na guitarra, teve ainda tempo para “trazer” Rolling Stones para o concerto. No “inferno” de Kane houve “Sympathy for the Devil”, com um “Pleased to meet you / Hope you guess my name” repetido a meio do tema “Give Up”.
A primeira parte encerrou com a música que dá nome ao último álbum – tinha sido antecedida de uma “incendiária” performance em “Inhaler” -, e foi a cantar repetidamente “Don’t forget who you are” que o público acompanhou a saída de palco e chamou de volta Kane e o quarteto que o acompanha (Jay Sharrock na bateria, Ben Parsons nas teclas, Phill Anderson no baixo, e George Moran na guitarra e voz).
Miles Kane fez o regresso com um “Colour of the Trap” tocado só à guitarra, num dos melhores momentos da noite, e fechou a noite com um tema que fala sobre aproximação, “Come Closer”. Porque o rock quando é bom também aproxima as pessoas e Kane, amigo e parceiro de Alex Turner nos Last Shadow Puppets e ex-vocalista/guitarrista dos The Rascals, sabe fazer bom rock. E tinha deixado o “aviso” assim que entrou em palco.
A primeira parte do concerto ficou a cargo da banda portuguesa The Doups.