Estava com sede de concertos, de baterias e riffs poderosos a amassarem a minha mente. E depois, Moon Duo na Zé dos Bois, com algumas ânsias numa noite disfarçada de Verão. Esta banda de rock psicadélico é formada por uma rapariga chamada Sanae Yamada e por Erick ‘Ripley’ Johnson, dos Wooden Shjips.
Numa já quente ZDB, Jibóia aqueceu essa sala com batidas electrizantes e alucinogénicas. Óscar Silva acompanhado de Ana Miró, a Sequin que se vai ouvindo pela rádio, já nos estavam a antecipar uma viagem complicada pelos fenómenos do psicadelismo da banda que lhes seguia.
Quando, depois de uma pausa, regressei ao pequeno compartimento dos concertos, já se respirava carne humana numa casa cheia. Os Moon Duo entraram com fé no rock – a saber um pouco a punk – e satisfizeram-me com aqueles riffs ora rockeiros, ora psicadélicos, que possuíam o meu corpo sedento de música, que reagia com movimentos mais e menos agressivos.
Três músicas depois já viajávamos numa epidemia psicadélica que não sabia subsistir numa caixa de fósforos em que eles se incendiavam uns aos outros. Tive de sair dela várias vezes, sempre para voltar a (tentar) entrar num mar de povo resistente. Eu tinha vontade; os acordes puxavam-me para dentro da sala e eu queria voltar à viagem. Mas cada vez que lá voltava, as luzes estavam mais fortes e a febre mais alta e os acordes repetiam-se numa alucinação cada vez descontrolada, entre o som do rock garagem, o industrial e a electrónica, numa confusão propositada de géneros. Os Moon Duo são influenciados por bandas como os Suicide e os Silver Apples, mas às vezes era como se estivesse a ouvir os riffs meio desafinados, meio fritantes dos Sonic Youth – mas em loop.
Há potencial, e há ali coisas muito boas; gostava de vê-los numa noite de Inverno, com frio, espaço e a altas horas de uma noite descansada, quando o meu corpo souber reagir à experiência auditiva e visual que os Moon Duo me têm para oferecer.
(Fotos: Rogério Ribeiro)