Ver um concerto no estrangeiro tem sempre um significado diferente do que se o víssemos no nosso próprio país. Por várias razões. A primeira é óbvia. A experiência de estar fora faz quase sentir que estamos a ver algo que ninguém em Portugal vai assistir, e se calhar é mesmo verdade. Outra das razões prende-se com a experiência sociológica de estarmos sozinhos com gente estranha. Sim, os americanos não são o nosso povo e são completamente diferentes. O que leva a outra questão, ontem empiricamente provada. O público português dá mil a zero ao americano. E atenção que este concerto teria tudo para ser um sucesso tal foi a energia da banda. Porém, ao contrário do que acontece cá neste cantinho do oeste europeu, o público americano pouco se manifesta, pouco salta, pouco bate palmas, e atenção que este escriba se encontrava bem à frente.
Será impossível ficar indiferente a “This Fire”, “No You Girls”, “Dark of the matinée”? Só “Take Me Out” trouxe mais fulgor à audiência. Pouco, muito pouco para o que se estava a passar naquele palco. Palco esse que, felizmente, tinha um som soberbo. Esse sim a fazer inveja aos nacionais…
De realçar também que este Hammerstein Ballroom já se transvestiu de várias maneiras. Começou como Manhattan Opera House em 1906 fazendo alternativa à grande Metropolian Opera House. Curioso foi o acordo que a Metropolitan fez. Pagou para que esta sala deixasse de funcionar como uma casa de ópera durante 10 anos, passando a ser uma casa de Vaudeville. Mais tarde tornou-se numa casa maçónica e ainda a sede de um sindicato. Neste momento é propriedade de uma igreja evangélica que a transformou em sala de espectáculos. (À atenção da IURD com o mítico Cinema Império).
Mas retomemos à exibição de Alex Kapranos e companhia. Ao quarto disco de originais a banda de Glasgow continua fiel a si mesma. Hits atrás de hits mas sem comprometer aquilo que são e fazem, desde o primeiro concerto que vi deles no Passeio Marítimo de Algés em 2005. Honestidade. Ao contrário de muitas bandas que tocam o disco ao vivo exactamente como o gravaram, os Franz Ferdinand deambulam e modificam partes das músicas dando uma experiência diferente ao vivo, o que na minha modesta opinião tem mais valor do que apenas decalcar o disco, mas como é óbvio há gostos para tudo.
O que me pareceu pertinente foi o facto de em quase dez anos, os Franz Ferdinand conseguirem ser exactamente a banda que foram desde o primeiro dia. A fazerem som para dançar e passar um bom momento. Sem necessidade de se venderem ou meterem malabaristas nos seus concertos.
Quatro tipos que tocam bem, Kapranos continua com uma voz formidável e uma energia de fazer inveja a muitos novatos. A banda sente-se unida e coesa e não se distingue altos e baixos no que concerne os êxitos antigos com os novos. O final do concerto foi o já característico de toda a banda na bateria, desta vez a finalizar “Outsiders”. Uma hora e meia ao mais alto nível a pedir um público mais caloroso, mas nisso sei que os meus conterrâneos não os vão deixar mal…