Vamos situar-nos: quarto dia de Outono, dez minutos desde o começo do dia, ano da graça de 2014. Os Capitão Fausto continuam em digressão com o seu último Pesar O Sol na bagagem. E estão no seu prime of life. Se há uns meses arriscávamos qualificá-los como uma das melhores bandas do país e como embaixadores do psicadelismo português, hoje temos já a certeza.
Os Capitão Fausto estão sólidos na sua arte: com as influências da música psicadélica moderna e do krautrock (especialmente ao vivo) bem presentes, o quinteto lisboeta não falha nos seus improvisos e na entrega total às canções que desde 2010 nos têm trazido. Um baixo porcalhão, duas guitarras bem domadas, uma bateria que impressiona (relembre-se o solo de Salvador Seabra a que tivemos direito) e teclados que fervilham. Tivemos rock no ponto oferecido por uma banda também no ponto. A única coisa a comprometer o concerto foi mesmo o público, que era composto por rapazinhos sub-18 que continuariam com moche e crowdsurf o concerto todo mesmo que os Faustos decidissem converter-se a um conjunto de música de câmara ou canto a cappella.
Já afastados do grupinho irritante que não conseguia prestar atenção ao que se fazia em palco – só aos mosh pits – conseguimos finalmente esboçar os sorrisos que o canto despreocupado de Tomás Wallenstein nos pedia pra esboçar. E, apesar de estarmos perante uma banda cujos álbuns são apenas dois e muito diferentes um do outro, conseguimos assistir a um concerto bem coeso, com as canções de Gazela equilibradamente polvilhadas pelo meio e com trave à viagem que é o disco mais recente. Ouvimos “Verdade”, “Sobremesa”, “Zécid”, todas a parecer acabadas de compor. Ouve cantoria e companheirismo dos dois lados, muita festa e braços no ar. Ouvimos também as “grelhas” que a banda tem vindo a tocar – improvisações entre músicas gravadas no disco Grelhados Ao Vivo, que foi vendido na bilheteira, faltando apenas as bifanas a 1€. O concerto fez-nos ainda sair do Musicbox com a serena “Pesar O Sol”, que nos levou até uma qualquer praia no sul do país, onde o horizonte desaparecia numa fusão relaxante entre o céu e a água, e através do portal criado pelos visuais que eram projectados no ercã.
Parecem-nos bem, estes renovados Capitão Fausto. Destinados a ser o próximo fenómeno do rock feito em Portugal (não o serão já?), parecem já longe os tempos de “Teresa”, que deixou de fazer parte do alinhamento dos concertos da banda e ousamos dizer, com toda a confiança: e ainda bem. O regresso aos palcos lisboetas não passou despercebido e quem lá esteve não podia ter passado mais animado serão.
Fotos: Diogo Lopes