Terça à noite, último de Setembro. Pela primeira vez em vários anos voltei a ver, juntos em palco, 75% d’Os Golpes. Saudosos Golpes, que saíram de cena quando estavam a caminho de ser uma das melhores bandas de rock em Portugal do século XXI. Deixaram saudades e naturalmente quis seguir o que os músicos andam a fazer. Já tinha escutado o disco a solo de Manuel Fúria, agora surgem os Mighty Terns, onde estão os restantes três elementos d’Os Golpes.
Esta é uma temática sempre difícil de abordar, o pós-carreira de gente que nos marcou com uma banda que já deixou de o ser. É sempre difícil impedir que a mente espere encontrar uma reedição e comparar o agora com o outrora. Isso é, quase sempre, inútil porque o que foi não volta a ser (mesmo que muito se queira).
Ultrapassado esse impacto inicial, claro que é um gosto enorme ver outra vez aqueles três rapazes (Canina na bateria, Luís no baixo e Pedro na guitarra) a tocar juntos.
Com os Mighty Terns, fizeram algo completamente diferente. Esta não é uma mais uma banda de rock nacional, é um grupo transcontinental que compõe as músicas à distância e só se reúne por teleconferência. E este concerto foi o primeiro de sempre, foi também a primeira vez que estiveram todos juntos – de Lisboa a Osaka vão mais de 9 horas de distância.
E foi um prazer estar presente nesta estreia mundial. Dos Mighty Terns já sabia duas músicas, que os próprios já me tinham avisado que eram as piores, que quiseram libertar já, porque as outras são bem melhores. E assim é, de facto.
No concerto de cerca de hora e meia, perante um Musicbox quase cheio, destilaram uma série de boas canções de inspiração disco funk. A secção rítmica é potente, mas disso não havia dúvidas, com o Canina a bombardear a bateria e o baixo do Luís a disparar directamente à pista de dança. As melodias, de que não custa gostar, partem ora das teclas (do Nuno Lacerda e do Hidekazu) ora da guitarra do Pedro da Rosa. A linha que conduz e une tudo é a que sai das cordas vocais da cantora filipina Pauline, uma voz fortíssima, que quase parece um trompete.
Assistir a este concerto valeu não só por ser o primeiro e por nos trazer de volta excertos de algo bom do passado, mas também para confirmar que eles são uma banda de palco. Não deixa de ser irónico que eles, passando o tempo a fazer música cada um no seu quarto e a mandar pela net, são muito mais fortes ao vivo. As músicas que já são conhecidas, em versão de estúdio, ficam tremendamente mais potentes ao vivo (também ajudou ter convidado uma secção de sopros). As restantes, não imagino como soem em disco, mas espero que mantenham o balanço que se sente em concerto.
O disco de estreia há de sair em breve. Tomara lhes corra bem, para que possam fazer vida de estrada, porque merecem estar em cima do palco.