Isto de assistir a dois concertos em que ambas as bandas são (quase) exclusivamente compostas por mulheres, tem que se lhe diga. Constatamos, uma vez mais e neste caso também pelo som, que elas é que mandam, embora nem sempre mandem da melhor maneira. Confesso que não conhecia as Anarchiks, e pelo que vi e ouvi, pode ser que o futuro lhes venha a sorrir. Ainda são um bocado atabalhoadas em palco, mas têm voltagem mais do que suficiente de energia punk-rock para dar e vender. Com um repertório mais alargado e com mais maturidade, poderão ir mais além. Já no que diz respeito às Cansei de Ser Sexy, a verdade é um bocado ao contrario: o passado sorridente talvez não regresse mais. Tudo o que escrevi até agora tem a validade que lhe quisermos dar, obviamente, mas parece-me que o único homem (Adriano Cintra) que fez parte do projeto das brasileiras, e que saiu para formar a dupla Madrid, faz muita falta às CSS. Anda por lá um baterista, mas não me parece que tenha funções idênticas ao referido “madrileño”.
Apostadas em apresentar o recente Planta, Love Foxxx e sus muchachas foram perfeitamente capazes de dar espetáculo (e deram-no), mas a receita da música que fazem parece já um bocado gasta, pelo que percebemos estar na presença de um bom show, embora de conteúdo apenas suficiente. Energia não lhes falta, mas pouco mais do que isso. É também evidente uma outra coisa, que estando inferida nas linhas acima escritas, não ficou devidamente explícita: Planta não é um disco memorável, e parece-me até ser o mais fraco dos poucos que as raparigas em questão foram lançando ao longo dos anos. Salvam-se algumas (poucas) canções, como é o caso de “Hangover”, e o resto é mais festa do que outra coisa. Mas festa sem grande estilo, repetitiva nos argumentos sonoros e nos trejeitos dançantes. Assim sendo, se a ideia é divertimento ululante, ou apenas abanar corpo e cabeça à medida dos saltos que as pernas conseguirem dar, então a Sala TMN foi, ontem, um local de apreciável qualidade musical. Até por outra razão, para além das referidas: as CSS sempre foram um projeto divertido, música para gente divertida e nova de espírito, feita por gente igualmente divertida e nova de idade. Isto foi há 10 anos (elas disseram que já tocam há uma década), sendo que as moças já devem estar nos seus trintas e picos, pelo que agora, pelo menos depois do que ontem se viu e ouviu, os seus predicados iniciais parecem já não colar tão bem com a ideia que fazia das CSS, se é que me faço entender. Mas valeu a pena, mesmo assim. Canções mais antigas e com outra marca de qualidade fizeram-se ouvir, e aí as coisas mudaram um pouco, para melhor. “Let’s Make Love And Listen To Death From Above” e “Alala”, por exemplo, ainda são magníficas. É claro que, no meio de tudo isto, a idade conta (ou pode contar), pelo que devo referir que o meu filho de 12 anos também foi ao concerto, e quando ler estas linhas (se esse milagre acontecer) é bem capaz de mandar estas ideias às urtigas e argumentar exatamente pelo avesso do que aqui deixei escrito. Uma hora depois de ter começado, o concerto acabou. Mas houve encore de 3 músicas, sendo que a última (elas avisaram) já não tocavam há muito tempo, e pediram para “pegar leve” se a coisa corresse menos bem. Não era caso para tanto, e foi com enorme surpresa que se ouviu “Superafim”, canção apenas presente na primeira versão lançada exclusivamente no Brasil do primeiro disco das Cansei de Ser Sexy. Eu tenho esse disco, e gostei de ouvir.
Para finalizar, fica uma ideia: Planta nasceu quase murcha, mas ao vivo consegue florescer, sobretudo com a ajuda de uma banda bem oleada, e suficientemente sexy para não nos cansarmos dela.
(Fotos: Rogério Ribeiro)