Que orgulho ver uma sala esgotada para um concerto de Black Mamba.
Pedro Taborda, Tatanka, caro amigo de há muitos anos, toca guitarra desde antes de saber andar. Nascido e criado em Sintra, começou cedo a tocar em bandas, de todos os géneros, do reggae ao hip hop, em bares com lotação de 15 pessoas, na rua, na praia. Ver agora a segunda sala do Olga Cadaval completamente cheia para ver Tatanka e companhia, enche de orgulho!
Sintra foi o palco do primeiro concerto dos Black Mamba em muitos meses. O mote, para o regresso, é um novo disco que está a ser gravado e que esperamos ouvir em breve, mas ainda não sabemos a data. Para aguçar o apetite, várias músicas já estão a ser tocadas ao vivo.
Esta noite, cerca de metade do concerto foi feito de músicas novas. E do que deu para perceber, vem aí um grande disco. O álbum de estreia, homónimo, de 2012, é um excelente tratado de soul rock, com blues e funk a espaços. Para o novo trabalho, a palete de tons parece estar mais ampla – para começar há mais psicadelismo. As músicas novas foram beber mais ao Woodstock e menos à Stax – de onde, aliás, não podem beber mais porque, em pequenas, caíram nesse caldeirão. Agora entra outro universo na equação. Os Black Mamba juntam, a toda a identidade soul que os caracteriza, a inspiração dos mestres – Santana, Jimi, Doors.. E o resultado está forte. Todos os elementos existentes, da orla soul funk, estão mais robustos, mais pronunciados. Os novos elementos, do blues rock, entram cheios de vigor no meio do que já existia.
Esta dicotomia também acontece em palco. Pedro Tatanka, chapéu de índio e bota pele de cobra, é o timoneiro. Guitarrista mais que talentoso e condutor dos acontecimentos. E cada nota que dá, sai-lhe verdadeiramente da alma. Na primeira parte do concerto está com esse traje, chapéu e blazer escuro, mais formal, mais soul, e a música que lhe sai da guitarra e da voz acompanha. Mais tarde, aproveita um interlúdio instrumental para ir ao camarim e volta selvagem, fita no cabelo, casaco de cornucópias. Solta-se o animal que há em si e vai tudo à frente. A segunda metade do concerto é feita de soul rockeira, com passeios psicadélicos pelos solos de guitarra cheia de efeitos ou pelas teclas espaciais de Marco Pombinho.
O andamento é dado por uma das melhores secções rítmicas que se ouve hoje em dia no país – a máquina trituradora de Miguel Casais na bateria e o baixo irrequieto e cheio de groove de Ciro Cruz. Imprimem um ritmo impressionante às músicas, ao mesmo tempo que disparam tiros certeiros às nossas ancas, o que torna impossível não abanar o corpo, ora frenética ora languidamente.Em cima desta base há depois duas duplas – de vozes e de metais – que dão as últimas pinceladas de cor às músicas.
Para fechar a noite em beleza, subiu ao palco o convidado especial Mister Silk (Cais do Sodré Funk Connection, Mr. Lizard, etc), para emprestar a sua voz forte e grave a toda a Soul People.
Em pouco mais de uma hora e meia os Black Mamba levaram o CC Olga Cadaval numa viagem entre passado e presente – deambulámos entre 2014 e 1970; e entre o disco de estreia e o novo álbum. Esta noite, por ser em Sintra e grande parte da plateia ser gente que conhece a banda desde antes de ela existir, foi uma grande celebração. Mais parecia um último concerto da digressão e não o primeiro. Celebrou-se a música dos Black Mamba, celebrou-se sentidamente a recuperação do baixista, Ciro, que venceu uma luta contra a leucemia, celebrou-se o regresso da banda “a casa”. E com tão boa energia que a banda recebeu da plateia, está muito bem dado o pontapé de saída na digressão de 2014.
Fotografia: Duarte Pinto Coelho