O que pode ainda motivar uma banda que anda na estrada há mais de 30 anos, já teve todo o sucesso comercial que poderia esperar e até já entrou no Rock n’ Roll Hall of Fame? Essa é uma das perguntas para as quais procuramos resposta a cada disco novo dos Red Hot Chili Peppers.
Agora, com o fresquíssimo The Getaway, há várias novidades, talvez ajudando os rapazes a encontrar alguns caminhos novos de fazer o mesmo de sempre. Acima de tudo, há mudanças na cadeira de produtor: sai o histórico Rick Rubin, entra Danger Mouse, o que acaba por influenciar, sempre, a forma de compor e, sobretudo, de gravar.
De facto, temos aqui um disco diferente em termos de produção, em termos de tom geral. São os Chili Peppers mais domados, mais “normalizados”, menos distintivos do que habitualmente. Em grande, medida, o funk-rock que é a imagem de marca destes cinquentões, dá aqui lugar um som mais pop, mais limado, aproximando-se por vezes daquele campeonato pop-soul de coisas como os Maroon 5. Aquilo que salva tudo, obviamente, é que os RHCP são um portento instrumental, com a secção rítmica sempre em grande forma, o guitarrista Josh Klinghoffer cada vez mais confiante e aquele timbre sempre inconfundível de Anthony Kiedis. Pode ser, em certa medida, o álbum dos Chili Peppers que soa menos a Chili Peppers, mas ainda assim a personalidade da banda – há muito afirmada – consegue sobressair.
The Getaway é um disco que, ao contrário de alguns outros da banda, não tem grandes altos nem grandes baixos. Parece ser, às primeiras audições, um álbum bastante equilibrado e que, como tal, pode vir a crescer lentamente. Faltam aquelas malhas gigantes de outros tempos, certo, mas ainda assim, há alguns destaques óbvios: o tema homónimo que abre o disco, uma boa malha, tensa mas pop, que até acaba por servir bem de cartão de visita de todo o álbum; o single “Dark Necessities”, que ilustra este novo som dos Red Hot num tema bastante orelhudo e que conta com o incrível baixo de Flea em todo o seu esplendor; e ainda “Go Robot”, o tema mais interessante de todos. Este, uma canção pulsante de ritmo e groove, ganha vida com uns discretos sintetizadores, abrindo a paleta daquilo a que os Red Hot nos haviam habituado. Um tema contagiante, em crescendo, que só peca por uma coisa: já acima dos quatro minutos, com os refrões despachados, abre-se um espaço enorme para uma jam quase espacial em cima da guitarra e dos sintetizadores, mas a banda dá-nos apenas alguns segundos dessa saborosa viagem, e depois acaba com a música. Um crime musical, que podia ter levado um óptimo tema ainda mais longe.
Depois de terem feito enormes discos de funk (Blood, Sugar, Sex, Magik, de 1991), um dos melhores discos de puro rock dos anos 90 (One Hot Minute, de 1995) e terem reinado enquanto gigante banda de estádio (Californication, de 1999, ou Stadium Arcadium, de 2006), os Red Hot fazem agora o álbum mais pop (não sem algum negrume) da sua carreira. Na nossa opinião, faltaria mais algum risco, alguma imprevisibilidade, algum rasgo que pudesse elevar The Getaway para mais perto dos melhores discos da banda. Assim, ficamos “apenas” com um disco de pop muito bem feito, muito bem executado e com o groove que sempre esperamos destes veteranos.