Os Garbage são, indubitavelmente, um produto dos anos 90. Surgiram quando a primeira vaga do grunge já tinha feito o seu trabalho, abrindo caminho para o mainstream aos sons mais rockeiros que acabaram por marcar a década.
Quando se estrearam, em 1995, os Garbage tornaram-se imediatamente um sucesso e uma marca reconhecida. O seu rock certeiro, produzido até à medula (três quartos da banda tinham já extensa carreira como produtores) e com um formato canção quase sempre certeiro, encontraram na vocalista Shirley Manson o rosto ideal para uma MTV que, nos tempos em que ainda passava música, era capaz de fazer estrelas do dia para a noite.
Muita água correu debaixo da ponte desde então, naturalmente. Ao álbum homónimo de estreia, casa de temas como “Stupid Girl” ou “Only Happy When it Rains”, sucedeu Version 2.o, outro sucesso planetário, puxado por singles como “I Think I’m Paranoid”. Depois, o mundo foi mudando, as modas também, e os Garbage não mais voltariam ao grande estrelato que haviam então conhecido. Lançaram mais três discos entretanto, o último dos quais, após sete anos de silêncio, foi Not Your Kind of People, de 2012.
Quatro anos depois, o regresso. Agora mais confiante, mais sério, com uma banda realmente madura em busca de reclamar o seu lugar.
Este Strange Little Things, de alguma forma, traz-nos os Garbage surpreendentemente coerentes com o som dos seus primeiros dois discos. Um pop-rock de guitarras e de percussão industrial, feito de canções com princípio, meio e fim, feito por gente do tempo em que, graças a deus, um refrão ainda era encarado como algo que pode salvar a nossa vida.
As letras continuam a oscilar entre o medo e a desilusão amorosa – tema recorrente de Manson – e a estranheza da vida moderna, do lugar do humano entre a corrida maquinal dos dias de hoje. O disco é, diga-se, Garbage em modo vintage. Está lá tudo. A batida maquinal, as guitarras cortantes, a produção exemplar, os temas pop sempre com alguma ansiedade lá injectada, alguns temas mais lentos que são tão bonitos como inquietantes. A diferença face aos dois discos iniciais está, talvez, na ausência de malhas pop demolidoras, embora tenhamos potencial de singles em “Empty” ou “We Never Tell”.
Tirando isso, talvez o maior defeito de Strange Little Things seja a sua maior qualidade. É um disco com o carácter da banda claramente marcado, o seu som característico que nos atira para os anos 90. Será que é isso que queremos hoje ouvir? Difícil dizer. Mas é um disco que cairá às mil maravilhas aos fãs de antigamente que queiram reviver o seu amor pela banda.