Depois de terem colhido todos os louros de Californication, os Red Hot Chili Peppers dão a permissão a John Frusciante para traçar o rumo a seguir. By The Way é um disco luminoso, melódico e pop, sem nenhum dos defeitos que estes termos poderiam vir a sugerir.
By The Way começou logo a ser pensado após a tour de Californication, o excelente disco que voltou a trazer os Red Hot para a ribalta. Já totalmente recuperado da adição que lhe tinha valido a expulsão da banda, John Frusciante começa a mergulhar nas suas influências. Em vez de termos o típico som funk/metal/rock que foi a imagem de marca da banda californiana a que os fãs se habituaram, By The Way é carregado de melodia e harmonias. O guitarrista dos Red Hot andava viciado no som dos anos 60, mais especialmente em Beatles, em Pet Sounds dos Beach Boys e no som de Phil Spector. Frusciante também queria introduzir elementos da sua influência punk, mas Rick Rubin, novamente aos comandos da mesa de gravação e produção, recomendou que a banda se focasse num só caminho, um que ainda não tinha desbravado totalmente. Californication tinha sido apenas os preliminares.
Com esta mudança de som, Frusciante e Anthony Kiedis começaram a ficar mais próximos, a gerar canções atrás de canções, com imaginários mais soalheiros, alegres e luzidios, com solos e imaginários etéreos, com a guitarra a ser o som mais importante do disco, largando a toada funk e mais groove que moldava o som habitual dos Red Hot. Como é óbvio, se a guitarra passou a ser o elemento condutor, o baixo tornou-se actor secundário e Flea ressentiu-se disso, referindo-se a isso por diversas vezes, acusando Frusciante de decidir toda a direcção musical, não tendo o baixista qualquer input a oferecer. Nunca explicando exactamente a razão, a verdade é que Frusciante acabaria por abandonar a banda, logo após a tour de promoção de Stadium Arcadium, o disco que se seguiu a By The Way.
Apesar desta anunciada mudança sónica, o disco abre com “By The Way”, canção-título, que podemos considerar como uma espécie de resumo de carreira do som da banda. Um som funk feroz, harmonias suaves, letras sobre miúdas, sobre andar pelas ruas durante o verão, umas linhas rapadas de Kiedis, umas pancadas valentes no baixo por parte de Flea. Três minutos e meio de biografia de banda em apenas uma música. Um êxito!
Após rebentar tudo, a banda entra no cosmos com “Universally Speaking”, onde Kiedis e, sobretudo, Frusciante nos conduzem pelo espaço adentro, emulando as camadas de som que Brian Wilson trouxe com Pet Sounds.
O disco avança, ao longo das suas 16 canções, pelo novo registo melódico que Frusciante criou, fazendo algumas alterações mais bruscas aqui e ali como em “This Is The Place”, “Don’t Forget Me”, “Throw Away Your Television” ou “Can’t Stop”, uma pedrada funk para relembrar velhos tempos da banda californiana, mas com coros e camadas trazidas à tona por este novo rumo.
Em By The Way também temos outros tipos de sons mais curiosos: a acústica com “Cabron”, com os seus ritmos e título latinos, influenciados por Aqualung dos Jethro Tull e a skazada “On Mercury”.
Anthony Kiedis revelou em entrevista que o tempo dispensado na gravação de By The Way teria sido o mais feliz da sua vida e isso é bem visível nas canções deste disco. Embora temas mais negros ainda estejam presentes, não encontramos aqui letras tão depressivas como “Under The Bridge”. O lado pop e soalheiro ganha força, dando às canções um frescor melódico não encontrado nos trabalhos anteriores, onde Flea e, especialmente, Frusciante mostram toda a sua qualidade musical. Apesar de ser um disco longo, como muitos da banda, não há uma má canção neste lote, conseguindo equilibrar bem os hits mainstream (“By The Way”, “Zephyr Song”, “Dosed”, “Can’t Stop” e “Universally Speaking”) com o som mais alternativo, dando visibilidade pop à banda, ao mesmo tempo que mantinha a sua base de fãs mais antiga.