E finalmente, ao sétimo disco, os R.E.M. chegam ao estrelato. Largaram o college rock, abraçaram a pop e a MTV, mas nunca deixaram de ser a banda que a Georgia viu nascer.
Foram precisos seis álbuns e uma sobreexposição na MTV para que os R.E.M. começassem a ter o reconhecimento que deveriam ter há muitos anos. Curiosamente, Out of Time não é a melhor imagem que a banda de Georgia tinha para apresentar a um público novo que vinha com vontade de cortar com a pop dos 80s (Bon Jovi, Madonna, Michael Jackson, Wham), pois o grunge e respectivo rock alternativo começavam a ser algo mais que do que som para alienados. No entanto, é da mais fina ironia que tenha sido através de temas mais pop, e facilmente reconhecíveis nos dias de hoje, que a banda de Michael Stipe começou a aparecer com mais frequência no radar mainstream que acabaria por dar uma volta de 180 graus neste sagrado ano de 1991. À explosão dos R.E.M. seguir-se-iam mais uns quantos discos incomensuráveis de bandas que não deixariam de aproveitar esta porta que se abria (Nevermind, Screamadelica, Ten, Black Album, Blood Sugar Sex Magik, Loveless, Bandwagonesque, Use Your Illusion I e II, entre outros).
Apesar dessa aproximação, voluntária ou não, ao público mais pop, não se pense que a banda vendeu a alma ao corporativismo. Out of Time tem pérolas inesquecíveis, momentos que só uma banda de uma qualidade superior poderia criar. Apesar de ser um disco do seu tempo, tipicamente do início dos anos 90, e o facto da banda ter passado de uma editora independente para um gigante da indústria como a Warner Bros, fez com que passassem a ter mais meios que antes não tinham. Um grande produtor (Scott Litt), uma melhor distribuição e divulgação do seu trabalho e a oportunidade de trabalhar com outras figuras da música que, à partida, pouco teriam a ver com a natureza da banda.
Tudo isto resultou num disco com muito mais produção, mais arranjos e maneiras diferentes de gravar. Um disco diferente, menos político e de intervenção, apesar deste ter sido considerado dos álbuns politicamente mais influentes, pois a encadernação do mesmo continha um destacável para uma petição intitulada “Rock the Vote” feita para que os cidadãos também pudessem votar por correio ou voto electrónico. Milhares assinaram a petição fazendo a moção ser aprovada. Isto fez com que se desse um aumento significativo entre os jovens votantes.
As letras de Out of Time passaram a ser mais pessoais (I, me, mine ou you), mas envoltas numa produção mais açucarada do que a dos anteriores trabalhos da banda.
Apesar desta mudança, os R.E.M. não deixaram de ser fiéis a si próprios e, à luz dos mais de 25 anos passados sobre o lançamento deste disco, começamos a deixar de ver Out of Time apenas como o álbum de “Losing My Religion” e “Shinny Happy People”, mas como um momento muito próprio e importante na banda de Georgia.
Out of Time foi considerado por muitos, e durante muito tempo, como o disco mais fraco da banda até à data. Uma banda que vinha do college rock, mais política e com muitas ideias em mente. Out of Time não é perfeito, tem momentos estranhos, como a colaboração do rapper KRS-One em “Radio Song”, onde a banda mistura a pop com o funk e o rap. Tem momentos açucarados em “Shinny Happy People” e “Me in Honey”, que contam com a colaboração de Kate Pierson, vocalista dos B-52’s, mas no outro lado da moeda encontramos momentos bucólicos em “Low”, “Texarkana” e “Endgame”. Encontramos a escuridão em “Country Feedback” e temos ainda, claro, a seminal “Losing My Religion”, a música que transformou os R.E.M. numa banda global e a encher estádios por esse mundo fora.
É fácil perceber que Out of Time seja um pouco o patinho feio da discografia dos R.E.M.. É o disco que fez com que uma banda indie se tornasse de todos. E isso faz os puristas, tão pequeninos nas suas ideologias, perderem a razão, pensando que a banda se tinha vendido.
Estavam bem enganados, pois logo em 1992 surgiria Automatic for the People, mostrando aos fãs antigos que a banda continuava tão forte como nos primeiros dias de Murmur , e aos novos que valia a penar começar a acompanhá-los.
Desenganem-se: Michael Stipe e companhia não estavam a ficar Out of Time…