São saídos de um filme. A preto e branco mas moderno. Sempre que penso Lisboa a banda sonora é Lisboa Mulata. Guitarras e contrabaixo. Fado, rock, electrónica. Os Dead Combo são um dos projectos com mais qualidade da cena musical portuguesa. Pedro Gonçalves (contrabaixo) e Tó Trips (guitarras) conseguem uma simbiose perfeita entre o moderno e o tradicional, a guitarra portuguesa e o electrónico.
Em Lisboa Mulata, de 2011, os sons saídos do fado de Alfama misturam-se com influências africanas, logo a começar pela faixa do mesmo nome, que roda em repeat desde que saiu o álbum. De vez em quando esqueço-me deles, vou para novos ritmos, mas penso Lisboa e logo regresso. E não me canso. “Anadamastor” dá vontade de dançar um tango lento num “qualquer” miradouro da cidade (sugestão do nome, talvez, definitivamente, sim). E “Aurora em Lisboa” é de histórias de espiões, chapéu e sobretudo, cigarro no canto da boca a fazer espera em carros antigos, todos com ar de Humphrey Bogart. “Blues da Tanga” leva-nos logo para um clube mal iluminado e cheio de fumo (a guitarra aqui é incrível) e “Esse olhar que era só teu” é fado, Amália, guitarra que chora. Em “Ouvi o teu texto muito ao longe” os Dead Combo contam com a narração de Camané mas as palavras são apenas um complemento: a guitarra e o contrabaixo enchem tudo.
O que mais gosto neste Lisboa Mulata é que serve para todas as ocasiões. Para ouvir com atenção e nos surpreendermos com a subtileza dos instrumentos. Para ter de fundo enquanto se trabalha, embalando a concentração. Para desenhar as imagens quando pensamos Lisboa. E o fado. E o blues. E a guitarra portuguesa. E não me cansa. E sabe-me tão bem ouvi-lo quando o recupero depois de me esquecer dele como me soube ouvi-lo pela primeira vez.