Millenial Shit , álbum de estreia, já tem uns meses mas não foi por esquecimento que o Altamont ainda não tinha trazido os Fugly até aos nossos leitores. O rock intempestivo e pujante do grupo lembra muita coisa mas deixa também no ar a certeza de que ainda há quem procure deixar a sua marca por via da eletricidade. Falámos com Pedro Feio (Jimmy) por email.
Que tal essa digressão europeia? Uma experiência inusitada de tão boa e o maior percalço desses dias, podem contar?
A digressão correu bem, foi uma viagem muito atribulada, cheia de experiências que hão-de ficar connosco para sempre. Houve um bom espírito de entre-ajuda, o ambiente foi sempre de boa disposição e levámos isto mais como umas férias entre amigos do que outra coisa. Ficámos com muitas histórias na nossa bagagem pelo que é difícil enumerar as que mais se destacaram. Desde eu ter apanhado um vírus e ter posto toda a gente de quarentena, a dormir em sítios estranhos (inclusive na carrinha), a conhecer um polaco que estava bêbado desde o meio-dia , ao concerto que se transformou numa “rave” de trance…
Millennial Shit porquê? Como lidam vocês com os novos tempos, as tecnologias, etc?
Millennial Shit porque sim. Foi a forma de saber lidar com os dias de hoje. Nós lidamos com as tecnologias todos os dias e passamos a vida a adaptar o nosso estilo de vida a isso. Isso também passa pela música e outras artes. É um tema que tenta chamar a atenção ao que se passa à nossa volta. Ao facto de sermos uma geração que nasceu e cresceu numa boa fase sócio-económica e estamos agora numa fase de sobrevivência em que ou ficamos no quentinho da casa dos pais até aos 30, 40 anos, ou arriscamos tudo mas temos de lutar contra imensas adversidades como trabalho mal pago ou inexistente, rendas cada vez mais caras, a constante máquina capitalista , a dependência das redes sociais como um meio de fazer parte da sociedade, etc etc. Mas acima de tudo é um romance, um jovem ‘millennial’ que tem de superar estes problemas e a única solução para se desligar é afogar-se em copos e noitadas sem grandes perspectivas de futuro, para além de ter que resolver questões do foro amoroso.
Ouvi falar em algo que tinha a ver com “masmorras de sex-shops”. Algo a ver com digressões passadas. Queres desenvolver?
De uma forma muito resumida: Fomos tocar a Madrid e dormimos na masmorra de uma sex-shop. Tinha lá fruta da época, sumo de laranja, erva e muitas pilas de borracha. O resto da história, deixamos ao vosso critério.
Convivem bem com o tempo em estúdio ou são mesmo uma banda que tem de se ver ao vivo para ter uma total noção da vossa pujança?
A fase de estúdio, para nós, tem de ser encarada como umas férias em que por acaso gravamos um disco. Foi assim o processo de gravação deste. Passámos duas semanas de férias num estúdio em Caíde de Rei (Google it), com amigos a passarem por lá, a apanhar muito sol, jogar Playstation 2, ver filmes, ir ao único café da zona ver o FCP jogar, entre outras actividades. Se fosse noutro ambiente mais sério e profissional provavelmente ficaríamos aborrecidos num instante. Mas se calhar todos nós concordamos que tocar ao vivo é a nossa praia. Principalmente pelas pessoas que acabamos por conhecer nas diferentes cidades portuguesas. Existe muita gente que ainda mexe muito pela cultura e pelas artes e que vivem debaixo de uma pedra porque ninguém lhes dá voz ou reconhecimento. Temos muito carinho por vários sítios onde passámos, onde se calhar as condições técnicas ou de cachet não foram as melhores, mas fomos mesmo bem recebidos e tratados não só pela organização como também pelo público, e isso é umas das coisas que nos dá mais prazer em tocar ao vivo.