The Shape of Jazz to Come. Assim se intitulava o terceiro disco da carreira de Ornette Coleman. Lançado em 1959, o disco era para ser baptizado com o nome de Focus on Sanity, mas por sugestão de Nesuhi Ertegun – produtor da Atlantic Records e irmão de Ahmet Ertegun -, ficou com o nome The Shape of Jazz to Come, um forte indicativo do conteúdo do álbum e do percurso futuro de Coleman.
Nascido em 1930, Ornette Coleman começou cedo a mover-se no circuito musical do Texas, tocando na banda escolar e com bandas de r&b e jazz, sendo sempre criticado pela sua constante procura por um som inovador e descomprometido. Mudando-se para Los Angeles, continuou a enfrentar duras críticas ao seu modo de tocar. Ao contrário do que era costume no bebop – improvisar sobre acordes e harmonias -, Coleman procurou criar um estilo sem qualquer tipo de amarras à estrutura convencional da canção. Para conseguir obter esse efeito, Coleman decidiu prescindir de pianista, tocando apenas com uma secção rítmica e um outro instrumento de sopro. Com estes elementos, o saxofonista improvisava de uma forma independente, tocando o que achava mais adequado, mesmo saindo da progressão harmónica por vezes. A encarnação mais conhecida dos seus quartetos era concebida por Coleman no saxofone alto, Charlie Haden no contrabaixo, Don Cherry no trompete e Billy Higgins na bateria.
Procurando sempre inovar, Coleman gravou em 1960 o disco Free Jazz: A Collective Improvisation tocando, simultaneamente, com um duplo quarteto. Todo o disco é o resultado de uma única sessão em que as indicações dadas aos músicos eram de curtos temas, sendo dada uma total liberdade para improvisarem além destes. Nascia assim o free jazz, que influenciaria uma longa gama de músicos como John Coltrane, Pharoah Sanders, John Zorn ou Thurston Moore.
Em 1970, Coleman gravou com a Plastic Ono Band a faixa “AOS”, em 2002 tocou no disco Hearts & Diamonds de Eddy Grant e, em 2003, juntou-se a Lou Reed para gravar a música “Guilty” no álbum em homenagem a Edgar Allan Poe, The Raven. Estas passagens pela música rock e Avant-garde são mostras que Coleman nunca desistiu de se reinventar, tendo até aprendido a tocar violino e trompete, para poder continuar a surpreender.
Aos 85 anos de idade, morreu Ornette Coleman. Foi necessária uma paragem cardíaca para travar o génio do trompetista que nunca se conformou com as regras da música que adorava tocar.