Soul Mining é a obra maior dos The The, excêntrico e melódico ao mesmo tempo.
O primeiro longa-duração de Matt Johnson é Burning Blue Soul (editado em nome próprio em ’81, mas reclassificado mais tarde como The The), um pós-punk corrosivo que não é para todos os ouvidos. Já Soul Mining, de ’83, é bem mais acessível, conciliando, com engenho, excentricidade e sentido pop.
Matt recebera um adiantamento da editora para gravar o álbum em Nova Iorque mas acabou por estourá-lo todo em drogaria, fez ele muito bem. Estando mais tempo nas discos do que em estúdio, pouca fita se aproveitou, o grosso foi gravado já em Londres. Toda esta experiência, porém, acabou por repassar para o disco, tingindo-o com música de dança e loucura criativa. Vale tudo em Soul Mining, desde entrelaçar electrónicas com acordeões e violinos, até cruzar batidas industriais com cânticos africanos! É na audácia desta manta de retalhos que reside uma boa parte da sua originalidade.
Se no disco seguinte, Infected, Matt seria abertamente político, mandando o Thatcherismo à merda, Soul Mining é um disco mais virado para dentro, uma “escavação da alma”, como o próprio título explica. Imaginem um tipo fechado no quarto, numa lassidão pegajosa, entretendo-se com a sua própria miséria, e terão uma ideia aproximada do universo deste disco. Desadaptados de todo o mundo, uni-vos…
O lado A é mais orelhudo, alojando os clássicos “This is the Day” e “Uncertain Smile”; o lado B mais atmosférico e cinemático, com uma ambiência quase film noir. O barítono de Johnson é profundo e expressivo, qual crooner urbano-depressivo. Matt toca uma porrada de instrumentos, completando o resto com muitos convidados. O mais distinto deles é o senhor Jools Holland, na altura teclista dos Squeeze, que ao primeiro take grava o maravilhoso solo de piano de “Uncertain Smile”, boogie-woogie para a geração pós-Pistols.
Se Matt Johnson nunca soube fazer música má, Soul Mining é a sua indiscutível obra-prima, um dos discos definidores da sua década, que nunca deve ser esquecido. Os adolescentes angustiados – os de ontem, os de hoje e os de amanhã – têm o direito inalienável a sofrer com ele…