PAUS no Musicbox: Que queiram sempre que nós quisermos.
“Uma bateria siamesa, um baixo maior que a tua mãe e teclados que te fazem sentir coisas”
Foi assim que conhecemos os PAUS há dez anos. É verdade, já passaram dez anos. Em retrospectiva, perdemos a conta ao número de vezes que os vimos, e aquela banda que ao início puxou a atenção não só pelos elementos que a constituíam mas principalmente pela bateria siamesa, soube sustentar esse interesse ao manter-se fresca ao longo de todos estes anos, sem medo de arriscar e se transformar. Dos palcos mais humildes aos grandes festivais, sozinhos ou com convidados, nas célebres e especiais Só Desta Vez, lembramo-nos bem das formas camaleónicas que já vestiram.
E é no assumir destas memórias que nos encontrámos no Musicbox, onde os PAUS arrancaram com a primeira data de 2019, ano em que celebram a tal década de vida.
O aviso colado na entrada de concerto esgotado indicava-nos sala cheia e, mais importante que isso, que o frio que se fazia sentir na noite alfacinha não cruzaria as portas que nos indicaram o caminho até ao palco onde, uns minutos mais tarde, veríamos Joaquim Albergaria, Hélio Morais, Makoto Yagyu e Fábio Jevelim percorrer uma discografia já interessante, que na sua génese, contou igualmente com a ajuda dos teclados de Shela.
“Língua Franca”, do álbum homónimo, deu o pontapé de saída nesta noite de celebração e, foi apenas no final do terceiro tema, que ouvimos o primeiro “woooo” saído de palco. Albergaria começaria aí a sua comunicação com o público e com o avançar das músicas iria pedindo para subirmos o nível de intensidade. Algo que veio a acontecer primeiro em “L123”, música para todos os putos do subúrbio que tomam pulso à cidade ao andar nos transportes públicos disponíveis, “Mo People”, que gerou as primeiras movimentações mais animadas na sala, mas sobretudo na recta final com “Pelo Pulso”, responsável pelo crowdsurf sem t-shirt que anteciparia “Tronco Nu”, como que prevendo o futuro e “Mudo e Surdo”, sempre um ponto alto em qualquer concerto dos PAUS, num regresso ao EP que começou toda esta viagem e que terminaria o espectáculo.
Na música e na mensagem, é importante referir que a banda é cada vez mais uma unidade coesa e que, o amor incondicional e plural que apregoam, faz cada vez mais falta a um Mundo que facilmente se vira do avesso e se esquece do que é mais importante.
E caso se estejam a questionar, sim. A bateria siamesa continua a soar cheia de pujança, os teclados continuam a fazer-nos sentir coisas e aquele baixo continua a ser maior que as nossas mães.
Texto: Hugo Rodrigues || Fotografia: Inês Silva