Let Love In foi a primeira tentativa, não admitida, de trazer Nick Cave e os Bad Seeds para a primeira divisão, para o público de massas.
Em 1993, Nick Cave and the Bad Seeds lançam Live Seeds, 13 temas ao vivo que, de certa forma, serviam como uma espécie de best-of dos primeiros anos de vida da banda do ex-Birthday Party, para além de darem um testemunho da sua força ao vivo, até hoje um dos grandes trunfos do conjunto.
Com o passado “arrumado”, o ano seguinte trouxe-nos Cave em mais um período de transformação, mas desta vez um que teria eco na década seguinte. Let Love In, de 1994, foi gravado pelos mesmos músicos que o seu antecessor disco de estúdio, Henry’s Dream. Mas, com Let Love In, o novo caminho para estes arruaceiros do rock estava já traçado. A grande diferença face aos álbuns anteriores, que nos atinge de imediato, é um cuidado na produção ausente até então. Esta era, afinal, a primeira tentativa não admitida de trazer Nick Cave e os Bad Seeds para a primeira divisão, para o público de massas. Aqui, Cave canta sobretudo sobre o amor, embora quase sempre da sua habitual forma algo peculiar e pouco óbvia. É um disco no qual o piano adquire um papel crescente, que viria a tornar-se quase esmagador em álbuns seguintes.
A razão pela qual Let Love In é, na nossa opinião, um dos melhores discos da óptima carreira de Cave é que aqui encontramos uma encruzilhada artística muito interessante, mas que a banda resolve sem problemas, fazendo a ponte entre o passado e o futuro, conseguindo trazer o melhor dos dois mundos. Ouça-se “Loverman”: é uma fusão quase perfeita entre o que Cave foi e para onde se dirigia.
Para além deste cruzamento, é o disco de vários grandes clássicos: a loucura gingona de “Jangling Jack”; a beleza baladeira de “Nobody’s Baby, Now” ou “Ain’t Gonna Rain Anymore”; e acima de tudo o pesadelo calmo e cinematográfico de “Red Right Hand”, como se David Lynch saísse do set de “Wild At Heart” para gravar o tema. Mas diga-se, não há uma música fraca entre as 10 que compõem o álbum.
Depois de Let Love In veio uma impressionante série de grandes discos: Murder Ballads, com estrondoso sucesso (e PJ Harvey e Kylie Minogue a ajudarem); o lindíssimo e pesaroso Boatman’s Call; e No More Shall We Part. Todos estes três discos, juntamente com Let Love In, compõem o quarteto central e mais forte de toda a obra de Nick Cave and The Bad Seeds. E, por falar em raiz, o caminho foi lançado no disco de 1994, que continua a ser a obra-maior de um dos mais relevantes artistas do nosso tempo.