Quando os anos oitenta ameaçavam muitos daqueles que nas décadas passadas haviam produzido os seus melhores discos, os The Moody Blues fizeram-se ao caminho, e ao décimo álbum deram uma enorme prova de vida.
Ofereci a mim próprio o disco Long Distance Voyager, dos The Moody Blues, no dia em que completei 14 anos. Nunca havia ouvido até então um único disco da banda (que na altura lançava já o seu décimo trabalho), e o que me fascinou terá sido, em primeiro lugar, uma faixa escutada na Rádio Comercial (ou “The Voice” ou “Talking Out of Turn”, não consigo precisar), e depois, coisa igualmente importante para quem viva fascinado pela música e pelos discos em vinil, foi a capa que me entusiasmou o suficiente para juntar uns trocados e comprar o álbum. Bendita hora, confesso. Long Distance Voyager foi ficando como o disco que mais aprecio, até hoje, feito pela banda inglesa, mesmo tendo depois, bem mais tarde, adquirido alguns álbuns clássicos como Days of Future Passed (1967), On the Threshold of a Dream (1969), To Our Children’s Children’s Children (1969), A Question of Balance (1970), Every Good Boy Deserves Favour (1971) ou Seventh Sojourn (1972) e gostado bastante de todos eles. Mas Long Distance Voyager consegue juntar à sua qualidade instrumental intrínseca, essa coisa tão apreciável que é ter boas canções (tão simples quanto isto), e de ter aparecido numa altura importante da minha existência de aprendiz de melómano. Este disco faz parte de mim há pouco mais de 35 anos, o que não deixa de ser já uma fatia de tempo considerável. Nunca mudei a minha opinião sobre ele, e há muito que devia a mim próprio (e ao próprio disco) este pequeno texto.
Ouvir a transição inicial das épicas cordas orquestrais de “The Voice” para uma batida pop / rock tão bem urdida como a que se ouve aos 31 segundos da faixa inicial, é algo que me arrepia até aos dias que correm. A canção fala, toda ela, por si mesma, mas aquele princípio permanece sublime aos meus ouvidos. Depois, logo a seguir, surge “Talking Out of Turn”, e ainda hoje duvido que a banda de Graeme Edge, Justin Hayward e John Lodge, entre muitos outros que foram entrando e saindo dela ao longo da sua existência, tivesse produzido um tema de igual beleza. “Gemini Dream”, a faixa seguinte, retorna ao rock, para depois o álbum serenar de novo, como se estivesse vagando por mares mais ou menos agitados, com as belíssimas “In My World” e “Meanwhile”. Depois, era altura de mudar para o lado B que abria com a triunfante “22,000 Days” em ritmo de exército a avançar para um qualquer destino imprevisto, dando posteriormente lugar a “Nervous” (“Why am I so nervous / Please explain to me / Why I can’t sleep”) e a “Painted Smile”, outro momento de singular elegância, de tão dramaticamente teatral. Para o fim, a brevíssima “Reflectvive Smile” (mais um interlúdio do que uma canção, mas sobretudo um elo de ligação perfeito entre os dois últimos temas do disco) e a mais acelerada “Veteran Cosmic Rocker”, que o finaliza.
Lendo estas palavras, parece curta a viagem deste Long Distance Voyager. Puro engano, sobretudo porque, no meu particular caso, ela é e será sempre entendida de forma dupla: pelo álbum e pelas suas canções, mas também pelo trajeto que faço, sempre que o ouço, ao distante dia 2 de outubro do ano em que o disco saiu. Como vos disse no início destas linhas, era o dia do meu aniversário, e nunca mais consegui oferecer a mim próprio uma prenda tão durável como aquela. Como esta, melhor dizendo, uma vez que permanece em minha companhia até hoje, embora multiplicada pela presença de um outro vinil (o primeiro tem há muito o ruído próprio do uso que lhe dei, e por isso está já reformado), de um primeiro cd também comprado há uma pequena eternidade, e de um segundo, remasterizado de acordo com as mais recentes artes de enganar os completistas desta vida.