Do nada que compõe a escuridão, os Mono conseguiram reconstruir um lugar seguro, cheio de texturas e sentimentos familiares. Nowhere Now Here é a reedificação de uma banda, que ao vigésimo aniversário, mantém os mesmos pilares mas sem a insegurança do desconhecido.
O post-rock é uma casa aberta. Neste espaço livre de constrangimentos – onde volto sempre em busca de alguma compreensão – são bem-vindos todos os estados de espírito e agilizados os procedimentos para que qualquer dor menos enquadrada sucumba às notas familiares que nos guiam espiritual e musicalmente para este porto seguro. Os japoneses Mono já fazem parte da mobília – bem lixada, encerada e cuidada – e comemoram vinte anos com o disco Nowhere Now Here, o primeiro desde 2016.
Ao décimo álbum de estúdio, concentram-se em fazer-nos sentir em casa com melodias acolhedoras e caseiras, a saber a Hymn To The Immortal Wind, e notas mais agressivas – mas sempre empáticas – e com tonalidades mais negras e exasperantes como já tínhamos sentido em The Last Dawn e Rays Of Darkness. No entanto, independentemente de onde e quando os ouvimos, todas as suas criações denotam alguma intemporalidade, seja pela vulgar sensação de familiaridade que a monocórdia do seu género nos passa, ou por nos vermos sempre inundados por sentimentos passados e presentes e certamente futuros, de uma vida vã em que não passamos de puros espectadores, meros transeuntes numa sociedade onde a música nos compreende mais do que as pessoas.
Minuciosamente orquestrado, Nowhere Now Here é, para além de uma jornada de introspecção, um álbum completo. Rico em sensações de ataraxia e nostalgia, surpreende ainda pela presença da voz extremamente bela da baixista Tamaki Kunishi, em “Breathe”, que nos transporta com o seu timbre sereno para um oceano de novas e profundas emoções.
Em cada nota, um ombro amigo. E na sua tristeza, a certeza de que não estamos sozinhos.