Com os The Internet no limiar do mainstream, Matt Martians encontrou tempo para fazer uma pequena pepita de grooves intoxicantes.
É engraçado pensar em Matt Martians a fazer um disco à volta de um rompimento amoroso. Como é que um ser tão alienígena pode sofrer de uma condição tão terrena? E quem diria que algo tão amargo como uma separação poderia resultar em melodias tão doces? Com os The Internet ocupados a promover o seu último disco, Hive Mind, Matthew Martin conseguiu arranjar duas semanas para gravar esta pérola R&B psicadélica.
The Drum Chord Theory, de 2017, já tinha demonstrado amplamente a recente obsessão do músico com cogumelos mágicos, com a sua produção cozida, vocais pitch-shifted e melodias oblíquas. The Last Party é feito com os mesmos ingredientes mas é uma viagem relativamente mais sóbria, o que não quer dizer que a sua altitude se mantenha abaixo da exosfera.
Um detalhe interessante é que, apesar de existirem apenas oito faixas neste curto álbum (tem menos de meia hora de duração), muitas delas estão divididas em duas partes ou mais. “Knock Knock” por exemplo, começa como uma balada R&B até se desvanecer em coros etéreos e interpelações de saxofone. O seu companheiro de banda, Steve Lacy partilha com Mac DeMarco créditos de produção em “Pony Fly”, uma canção destinada a animar a pista. O baixo frenético de Lacy acompanha a guitarra solitária de DeMarco por baixo de um refrão gorduroso cantado por uma emaranhado de vocais desvanecidos em reverb.
No geral, as músicas não se afastam assim tanto da sonoridade dos The Internet, especialmente nas canções nas quais os membros da banda participam, mas a personalidade de Matt Martians prevalece. Quando não está a falar entre canções, está a introduzir efeitos sonoros inesperados a meio de canções, mais orelhudas que as da sua banda. Nada na discografia da banda é tão orelhudo como o riff de piano elétrico que forma a primeira parte de “Look Like”, por exemplo. The Last Party lembra-nos que os The Internet são muito mais que Syd e Steve Lacy.