St. Anger (2003) não é um disco mau, mas não consegue sobreviver (e conviver) com a discografia que os Metallica nos deixaram décadas antes. A banda tentou ultrapassar o alcoolismo (e respectiva reabilitação) de Hetfield, o mau feitio de Lars, a saída do baixista Jason Newsted, a guerra com a Napster e, sobretudo, a moda do novo milénio. Sem sucesso. Volvidos 13 anos, St. Anger é um dos discos mais odiados da história do Metal – mas pelos motivos errados.
Não há solos, mas há rapidez. Há repetição e agressividade. As letras foram escritas por Hetfield e Lars e, à boa moda do nu-metal, a guitarra está afinada num tom abaixo. Ah, e a bateria? Ao invés de se ouvir o típico snap de tarola, ouve-se pang. Tal como se Lars estivesse a dar baquetadas num caixote do lixo de metal. Em Maio de 2003 o disco saiu, a crítica aplaudiu e o público – que havia aplaudido o Black Album 12 anos antes – vaiou.
Mas entre 1991 e 2003, muito mudou. Os Metallica tinham uma crise acumulada. Começaram a década anterior a viver do maior sucesso comercial da banda, The Black Album (1991), e terminaram de costas assumidamente voltadas para o thrash metal – “está fora de moda”, disse o baterista Lars no documentário Some Kind of Monster.
Tentaram inventar-se “de forma forçada”, dizem os fãs. Abraçaram o rock clássico – afinadinho e cantarolado – em Load (1996) e Reload (1997), apregoando aos poucos e poucos a ideia de que tinham algo de novo para oferecer. Para alguns fãs, o monstro que os Four Horseman haviam criado durante os 70’s e 80’s estava prestes a ser sepultado, de caixão aberto, com St. Anger.
As gravações de St. Anger começaram em 2001, mas o baixista que acompanhava a banda há 14 anos acabou por sair. Depois de Newsted e antes de do ex-Suicidal Tendecies Roberto Trujillo, fora o aclamado produtor Bob Rob a assumir o baixo do disco. Rob já havia tomado as rédeas da produção no Black Album e de ambos os Loads.
Contudo, em Junho de 2001, a banda foi forçada a parar o processo de gravação. Jason Newsted, que acompanhava a banda desde a morte de Cliff Burton em 1988, decidiu sair por “razões pessoais”, “danos físicos” e conflitos com Hetfield. Em Junho de 2001, James Hetfield foi para uma clínica de reabilitação curar o seu “alcoolismo e outros vícios”.
Em Abril de 2002, o frontman dos Metallica voltou “cheio de paixão”, mas limitado – só podia trabalhar do meio-dia às quatro da tarde. Kirk, Lars e Hetfield juntaram-se, de instrumento na mão, e fizeram brainstorm na sala de ensaios. E foi na confusão das suas vidas, enferrujados da sabática de 2001, que decidiram fazer da desordem do momento a identidade do disco. “[Este disco] são dois anos de emoção condensada. Passámos por muitas mudanças pessoais, dificuldades, epifanias. St. Anger é o melhor que conseguimos fazer neste preciso momento”, disse Hetfield à Blabbermouth.
E a moda? Os Metallica de St. Anger têm resquícios do nu-metal. Em 2003, o que ouviam os recém rockeiros? Korn, Limp Bitzkit, Deftones, P.O.D. Baluartes do nu-metal, das baterias e guitarras afinadas em Dó. Curiosamente, no mesmo ano em que St. Anger foi editado, a MTV dedicou uma festa para celebrar a carreira dos Metallica. Quem tocou? Snoop Dogg, Limp Bizkit, Sum 41 e Korn. Querem ouvir como soaria o “One” se tivesse sido escrito para o St. Anger? Ouçam.
E assim nasceu St. Anger, um disco pensado para não ter polimentos. A bateria afinada noutro tom, os volumes exagerados e a falta de solos. Fazer um disco raivoso, fruto de conflitos interiores e jam sessions. Ah, e da moda.