Como tantas outras bandas, os Green Day vivem à sombra e na sombra de um grande disco que lhes mudou a vida. No seu caso é Dookie, de 1994, um portento de punk-pop que nos deu uma injecção de energia e de boa disposição em plena explosão do cinzento grunge. Quem os apanhou nessa fase rapidamente os largou, em busca de coisas mais profundas, mas houve toda uma geração que os apanhou dez anos mais tarde, com American Idiot.
A banda de Billie Joe Armstrong, aliás, tem o mérito de ter conseguido instalar-se, e manter-se, num campeonato mainstream continuando a fazer aquilo que sabe fazer. A questão que se coloca é qual a utilidade de uns Green Day em 2016. Há uma, à cabeça: é a única banda de jeito que muitos putos ouvem, enquanto pululam entre pops plásticas, e isso já não é mau. Bastaria um puto ir ouvir os Clash por causa dos Green Day para a batalha ter valido a pena.
Revolution Radio é o primeiro disco de originais do grupo deste a trilogia de 2012 que não deixou saudades, com a sua ambição a não conseguir ser igualada pela sua qualidade ou relevância. Agora, os Green Day buscam uma nova concisão, num disco que é, de facto, coeso, se calhar até demais.
A fórmula musical é a mesma de sempre, um punk-pop melódico, de quem sabe fazer canções e não apenas barulho. Acontece que, agora como em muitos outros discos do grupo, faltam as malhas que fizeram de Dookie um dos discos mais queridos dos anos 90. As coisas funcionam no registo semi-acústico que abre o álbum, com “Somewhere Now”, e quando rasgam em temas mais acelerados, como o single de avanço, “Bang Bang”. O problema é que no meio disso há coisas fracas como “Outlaws”, uma espécie de balada rock que repete demasiados clichés e tem inspiração zero; o mesmo se podendo dizer de “Say Goodbye” ou “Troubled Times”, por exemplo.
Depois, a produção do disco. Dá a sensação que foi tudo gravado da mesma forma, ao mesmo volume, do princípio ao fim. O efeito é uma parede – lá está, coesa – mas que acaba por não ajudar a distinguir particularmente uns temas dos outros.
Liricamente, os Green Day pisam terrenos habituais, de crítica social, aos EUA e à sua relação doentia com a violência, os mass media ou o culto da celebridade. Nada de novo, portanto. Na verdade, os Green Day não são musicalmente assim tão diferentes de coisas irrelevantes como os Blink 182 (ouça-se “Youngblood”, aparentemente desenhado para fazer parte da banda sonora de um qualquer American Pie), com uma diferença essencial: têm credibilidade, o que lhes permite irem sendo respeitados por algo mais do que a sua música, por si.
Eu tenho algumas saudades de quando eram putos parvos cheios de tusa e pouco a dizer acerca do mundo, antes de se tornarem uma espécie de Bono Vox do punk, a querer mudar o mundo. Aqui há boas intenções, há alguma energia e, no seu cômputo geral, Revolution Radio é um bem razoável disco rock. Faltam é malhas a sério, canções que nos façam voltar a ouvir repetidamente. E alguma originalidade e inventividade, sejamos honestos, problema que já não é de agora.