Marisa Monte trouxe consigo um vendaval de boa música e boa onda à noite de Oeiras. Ontem, a nossa mais querida carioca arrasou no concerto do Festival Jardins do Marquês. Tínhamos tantas saudades dela!
Uma das últimas grandes estrelas femininas da música popular brasileira regressou a Portugal. Falamos, como é óbvio, da deusa Marisa, Marisa Monte. Depois de algum tempo sem estar trabalhando e gravando, Marisa voltou com Portas, de que aqui demos conta em devido tempo. E porque portas são inícios de caminhos, Marisa Monte veio até nós, ao Festival Jardins do Marquês 2022. E nós, Altamont, como bons fiéis e súbditos, fomos vê-la, ouvi-la, sentir o pulso do seu infinito e particular percurso. Antes do início do concertos, houve ainda tempo para outros músicos, como Jorge Drexler. E, antes ainda do cantor uruguaio (sem banda, apenas de guitarra a tiracolo e com a sua “Al Otro Lado del Rio”), a jovem brasileira, radicada na Suíça, Dandara Modesto mostrou a sua graça. No entanto, e a bem com a concordância destes tempos apressados em que pouco se lê, e mesmo assim de corrida, diremos apenas como foi o concerto que Marisa Monte preparou para nós. Com todo o cuidado, como sempre. Com todo o carinho, como é comum entre entidades que sentimentalmente se conjugam: a carioca e o público português. Oeiras foi o palco de encontro.
Surgiu, como rainha que é, de mansinho, quase em sussurro, com coroa a preceito a encimar o corpo e a voz. Abriu com “Portas”, mas foi com a lindíssima “Maria de Verdade” que a primeira gritaria se fez ouvir. Depois, a noite foi longa, no “Vilarejo” de Oeiras. O desfilar de clássicos foi impressionante. “Infinito Particular”, “Ainda Bem”, “Seja Eu” (tão antiga e tão bonita), “Ainda Lembro” e tantas outras que por aqui aparecerão em algumas das próximas linhas. Marisa Monte continua invejável na voz, na figura, nos modos com que se bamboleia, nos jeitos sedutores que traz para cima do palco e na alegria com que se entrega ao espetáculo. Incrível o encontro com a canção “Preciso Me Encontrar”, um dos primeiros temas gravados por Marisa Monte. Que bonito! Marisa chamou, entretanto, ao palco Jorge Drexler, com quem havia gravado “Vento Sardo”, e ambos cantaram a canção feita em Itália, há cerca de cinco anos, aquando de uma viagem pelas águas desses locais sardenhos. E porque falamos de uma figura ímpar do universo particular da música popular brasileira, no palco também estava Dadi, músico histórico do país irmão, que aos 17 anos começou nos Novos Baianos e seguiu inspirando gerações, até se imortalizar como “Leãzinho”, que foi cantada em palco. Um dos grandes, a quem Marisa e Drexler homenagearam, traçando um pouco da sua trajetória, desde o referido começo, passando pelos discos de Jorge Ben, até à Cor do Som, banda de destaque em finais da década de 70 e quase todos os dez anos seguintes. Foi muito bonito esse momento. Na verdade, ontem o palco esteve cheio de craques! Chico Brown, Pupilo e Davi Moraes foram apenas mais três. Que constelação!!! E ainda no âmbito dos estratosféricos, Paulinho da Viola, de certa forma, também esteve presente através da tão linda “Dança da Solidão”. Na verdade, para aguentar tal dose (imensa) de maravilhas, foi preciso “Calma”, um dos mais recentes hits de Marisa Monte, para que as emoções aguentassem o embate.
Voltando à ideia deixada atrás e retomada agora, a dos clássicos que foram apresentados em palco, juntemos mais alguns como “Eu Sei”, “Velha Infância”, “Lenda das Sereias, Rainha do Mar”. “Na Estrada”, “Não Vá Embora” e “Magalabares”, com que terminou o show. Depois, os encores: “Pra Melhorar”, “Já Sei Namorar” e, por fim, “Bem Que Se Quis”.
Foi uma noite de glória, a de ontem. Marisa Monte continua dona e senhora do seu Olimpo musical. Parece que a idade não passa por ela. Não lhe notámos uma escorregadela, sequer. As notas que canta são notas do céu, perfeitas, límpidas, com a forma própria dos demiurgos. Como foi bom voltar a ver (tão de perto, quase ao alcance dos braços, e a ouvir Marisa Monte. As nossas portas continuarão sempre abertas para a eterna menina da Portela.
Fotografias: Hugo Amaral
”Encore” deve ser o nosso ”bis”,vou ampliando meu vocabulário – ”Chico Brown” (músico de Marisa),pra quem não sabe,é filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque,só,rs.