A 11ª edição do VOA – Heavy Rock Festival arrancou a 30 de junho, no Estádio Nacional, e começou com os lisboetas Bizarra Locomotiva, a abrir o festival. De seguida tivemos os noruegueses Kvelertak, banda que já terá estado em Portugal a abrir para bandas como Metallica e Mastodon. Kreator e Megadeth tocaram muitos dos seus clássicos, e os Gojira terminaram em grande a noite no Jamor. Um forte primeiro dia que merecia mais público do que aquele que teve.
Com Bizarra Locomotiva a abrir as hostes, Rui Sidónio, como habitual, desceu do palco para se reunir com a sua “escumalha”, em clássicos como “Mutuário”, e “O Anjo Exilado” e “Escaravelho”.
O frontman de Kvelertak, Ivar Nikolaisen, e a sua banda rapidamente conquistaram o público dando um concerto bastante enérgico, onde não faltaram circle pits e walls of death, mostrando que já mereciam um concerto em nome próprio em Portugal. “Rogaland”, “Crack of Doom” tema que em disco conta com a participação de Troy Sanders dos Mastodon, “Blodtørst” e “Kvelertak”, foram alguns dos temas tocados pelos noruegueses.
Curiosidade, o desenho da bandeira que constava no fundo do palco é arte de John Baizley, vocalista e membro fundador de Baroness.
Os ícones do thrash europeu, Kreator, proporcionaram um final de tarde no Jamor repletos de êxitos dos seus mais de 30 anos de carreira, como “Enemy Of God” e “Phobia”, e apresentaram o seu mais recente single “Hate Über Alles”, que o público entoou do início ao fim. Entre riffs aguçados e moshpits massivos, foi um belo regresso dos alemães ao nosso país.
Os Megadeth, banda de Dave Mustaine, acompanhado do guitarrista Kiko Loureiro, baixista James Lomenzo e baterista Dirk Verbeuren, tocaram e puseram o público a cantar os clássicos “Trust”, a sua balada “A Tout Le Monde”, “Symphony of Destruction”, “Peace Sells” e a terminarem com a “Holy Wars… The Punishment Due”.
A fechar a noite tivemos a banda dos irmãos Duplantier (vocalista Joe Duplantier e baterista Mario Duplantier), Gojira, que já tinham marcado presença na edição de 2019 do festival e que conquistaram imensos fãs. A banda francesa, que conseguiu cativar o público português durante todo o concerto, apresentou temas do seu último disco “Fortitude” como “Born For One Thing”, música que abriu o concerto, e ainda ouvimos as mais conhecidas como “Backbone” e “Flying Whales” do álbum de 2005 From Mars To Sirius, “Stranded” e “Silvera” do “Magma”, “L’enfant Sauvage” e “The Gift of Guilt” do disco L’enfant Sauvage de 2012. Terminando com o tema “Amazonia”, ainda tivemos oportunidade de ver Mario a fazer crowdsurf dentro de um barco onde acenava com a bandeira portuguesa.
O 2º dia do VOA contou com o regresso dos neozelandeses Alien Weaponry, Gaerea, Crossfaith, Phil Campbell and The Bastard Sons, Mastodon e para encerrar o dia os Bring Me The Horizon.
A banda em ascensão de black metal portuense, Gaerea, que atuou recentemente no festival Hellfest, entrou antes das 17:00 em palco, que mesmo sem o membro da banda Ruben Freitas, conseguiu cativar a audiência que sob o sol intenso se rendeu à muralha de som que saia do palco, provando assim ser uma banda digna de outros horários nos lineups dos festivais portugueses. Foi apresentado o single “Salve”, do seu próximo disco intitulado de Mirage que tem lançamento marcado para dia 23 de setembro de 2022.
Em terceiro lugar no alinhamento, com a sua fusão de metalcore com eletrônica, tivemos a banda japonesa Crossfaith, que conseguiu uma interação sublime com o público sendo claramente uma surpresa positiva neste dia.
De seguida, Phil Campbell e os “seus filhos bastardos” apresentaram-se com tributo a Motörhead, com uma setlist recheada de clássicos que puseram todo o público a cantar. Desde “Iron Fist”, “Bomber”, “Killed By Death” até o hino do heavy “Ace of Spades”.
Os veteranos oriundos de Atlanta, Mastodon, marcam o grande concerto do dia. Bem conhecidos pelo público português, a afluência às primeiras filas foi notória. Em modo de aquecimento a banda começou com “Pain With an Anchor” do seu mais recente álbum Hushed & Grim, mas o poder da voz rouca de Troy Sanders em “Crystal Skull” aliada ao riff “sujo” da guitarra e a um Brann Dailor cada vez mais em forma, definiram o que foi o resto do espetáculo. Pits gigantes, muito crowdsurf e uma plateia radiante. Destacamos ainda o regresso da “The Czar” do álbum Crack the Sky que colocou o público a cantar em uníssono, e também o caos habitual que se forma assim que são tocados os primeiros acordes da música final “Blood and Thunder” do álbum Leviathan.
Odiados ou amados por muitos, ninguém é indiferente à banda de Oli Sykes. BMTH tiveram a tarefa hercúlea de tocar depois do enorme concerto de Mastodon. Os pioneiros do deathcore há muito que abandonaram as suas raízes em favor de uma sonoridade mais catchy, por vezes a roçar a pop. É verdade, quer se goste quer não, resulta, e conseguem captar uma audiência muito maior e entrar no mainstream de rompante. A mudança de público em frente ao palco era óbvia mas não menos entusiasta.
Os BMHT aqueceram a plateia com o tema de abertura “Can You Feel My Heart” do álbum Sempiternal de 2013, de seguida Oli pedia num português abrasileirado circle pits que se formaram ao som da “Happy Song” do álbum That’s the Spirit, de 2015. Entretanto, durante a “Parasite Eve”, o palco ficou sem luzes e os murais de vídeos deixaram de transmitir imagens. O público acende as luzes dos telemóveis e Oli diz “no luz, sem problema”, continuando o tema sem se deixarem desanimar e de seguida tocam em acústico “Follow You” que pôs todos os fãs a cantar.
Passados os problemas técnicos, a banda regressa ao palco em força para o tema “Shadow Moses”, com Oli a pedir a incentivar o público ao moshpit e terminam com temas como “Drown” e “Throne”.
Atuação bastante competente com um dos frontman mais carismáticos desta geração, contudo o público que os segue desde o início da sua carreira, sentiu a falta de temas mais antigos, como “Pray For Plagues” do seu primeiro álbum.
A abrir o 3º e último dia de festival, tivemos a estreia em solo nacional dos canadianos Deadly Apples, banda formada por Alex Martel (frontman/vocalista) e Antoine Lamothe (baterista). Com uma sonoridade característica, que mistura rock, electrónica com guturais proponentes, apresentaram-se para uma plateia ainda curta, devido ao forte calor e possivelmente também devido a não serem muito populares entre o público português. Com uma actuação cheia de fúria do vocalista que fez em vários momentos voar o tripé e microfone, seguida de banhos de água, momentos de dança proporcionados pelo “sampler”, certamente despertaram curiosidade entre a plateia.
Raven Age foram a segunda banda a subir ao palco, 15 minutos mais cedo que o anunciado. A banda do filho de Steve Harris (Iron Maiden), George Harris, já é bem conhecida do público português, depois de aberturas para bandas como Alter Bridge, Tremonti e até Iron Maiden.
Despido de Corpse Paint e de todos os adereços que o caracterizam em Behemoth, Adam Nergal Darski subiu ao palco com o seu projecto Me and That Man. Com uma sonoridade menos pesada do que estamos habituados, MATM conseguiu conquistar uma plateia com o seu blues hipnótico. Magnífica interação tanto com o público como entre todos os elementos da banda, até houve tempo para uma “lição musical” de Nergal pedindo ao público para cantar as notas que estavam a tocar.
Temas como “My Church is Black” e “Burning Churches”, foram bem recebidas pelo público que se deixou contagiar pelo carisma que a banda transmitia em cada acorde.
Com fim de tarde ainda quente, os Epica que também já atuaram por diversas vezes no nosso país, tomaram as rédeas do palco e não faltaram temas como “Cry for the Moon” e “Consign to Oblivion” para os mais saudosistas, ou temas mais recentes como “Abyss of Time” que abriu a setlist. Simone Simons encantou mais uma vez o público com a sua voz angelical, que contrastava com os guturais de Mark Jansen.
Praticamente uma década depois, os Rise Against voltaram a Lisboa para dar um concerto memorável. Para grande parte do público seria a primeira vez que assistiam à banda de punk-rock de Chicago, tal como o vocalista e guitarrista da banda Tim McIlrath viria a confirmar.
Com a sua mensagem de revolução, paz e tolerância, o que se pode constatar durante todo o concerto foi um espírito de comunidade entre todo o público. Mesmo com uma ausência acentuada dos palcos portugueses, êxitos mais recentes como “Nowhere Generation” eram cantados por todo o recinto. Não faltaram também os clássicos “Prayer of the Refugee”, “Give it All” e a soberba “Savior” a fechar o concerto. Destacamos a interpretação de “Hero of War” tema em que Tim se apresentou sozinho em palco com a sua guitarra acústica e pediu à plateia para lhe enviar “a sua luz”, e o público assim o fez com os seus isqueiros e telemóveis. Um dos momentos mais memoráveis do festival.
Em contraste com a banda anterior, os Sabaton, tocam e cantam sobre histórias de guerra, eventos marcantes ou batalhas militares que irão perdurar no tempo.
Sabaton começam o concerto em força com o tema “Ghost Division” do álbum “The Art of War”. Fogo, pirotecnia, “disparos” de um tanque onde Hannes Van Dahl toca a sua bateria, foi um espetáculo que poucas bandas conseguem executar com tanta perfeição. Grandes temas como “Night Witches”, “Primo Victoria” ou “The Last Stand” não podiam faltar.
Nas músicas “Bismark” e “Swedish Pagans” houve direito a Rowboat moshpit, uma moda recente em que o público se senta no chão e rema todo na mesma direção ao ritmo da música, como verdadeiros Vikings! Destaque também para a maior wall of death do festival ao som da poderosa “Great War”.
Foi um magnífico regresso dos suecos em que até o normalmente muito falador Joakim Brodén (vocalista) ficou sem palavras com a total entrega de quem assistia.
Em suma, a par de Gojira, o melhor concerto dos três dias desta edição do VOA.
Texto: Diogo Bugalho || Fotografias: Inês Silva