Aos 29 anos, Luísa Sobral deixa cair o apelido e lança Luísa. Não é difícil de adivinhar que este é o disco mais pessoal da compositora, e não é de estranhar que seja o seu melhor – e o “orgulho” com que fala do álbum é bom indicador disso, mesmo que lá em casa não costume ouvir muito os seus próprios discos.
Com o agora editado Luísa, quarto álbum de originais, a cantora e compositora reconhecer fazer uma “aposta maior”, mas adverte: “Apostei muito neste disco mas foi mesmo por uma pressão minha, que me impus a mim mesma, não por causa dos outros ou terceiros”.
Quem viu Luísa com 16 anos num programa televisivo de talentos dificilmente imaginaria que, perto dos 30, estaríamos na presença de um valor que trocou a pop mais descartável por registos mais sóbrios: não por acaso, é das poucas portuguesas que atuou no programa televisivo de Jools Holland (na BBC), e o bom gosto de elencar Frank Sinatra ou Ray Charles como referências maiores comprova a maioridade da compositora.
O curioso vem depois: “Não gosto muito de me ouvir. Num restaurante já me meteram o meu disco a tocar por cortesia, quando me reconheceram a comer por lá, mas na verdade foi um bocado constrangedor”, conta, entre risos.
Contudo, “há uns tempos”, e devido a vicissitudes tecnológicas – uma “atualização ao telemóvel” não muito bem-sucedida -, Luísa Sobral conta ao Altamont como ficou praticamente sem música arquivada e acabou por ouvir o seu primeiro disco, The Cherry on my Cake, de 2011. “Oiço muitas vezes os meus discos, quando os estou a trabalhar, em produção, tantas e tantas vezes, mas depois quando eles saem deixo de os ouvir”, revela, antes de admitir algum entusiasmo com o inesperado regressar às primeiras canções que gravou.
E o novo disco? “Estou super orgulhosa deste disco. O outro dia estava a ver uma fotografia antiga minha, com o cabelo diferente. Um disco é um bocado como isso, representa um tempo e uma época. Este é um disco muito mais autobiográfico, pela primeira vez escrevi bastante sobre mim e não tive problemas com isso”, conta. A nova fase pessoal – Luísa Sobral foi mãe recentemente – conforta a artista e, tão ou mais importante, a mulher.
A gestão entre as canções e as fraldas não é fácil, reconhece, mas podia ser pior. Luísa está “muito mais horas” com o seu filho, e nisso vê “muita sorte” por ter a profissão que escolheu: “Se quiser posso parar um ano e ficar só com o meu filho. Claro que não ganho dinheiro, e tenho de gerir a minha carreira, mas nesse aspeto não é como uma outra profissão dita normal”.
Luísa está aí, e chegarão datas para apresentar ao vivo e “chegar a mais pessoas”, ainda e sempre o objetivo principal da compositora. “Tocar e viajar” é sempre bom, e o pior é mesmo “andar de avião” – não por medo, realça, mas porque, acrescentamos nós, é tempo que o ar retira ao encantamento natural que, em terra, Luísa Sobral provoca.