Penúltima noite do EDP Cool Jazz com vitória lusa. Gostámos mais de Luísa Sobral do que Jamie Lidell & The Royal Pharaohs.
E eis que, num ápice, estamos já quase no final da edição de 2017 do EDP Cool Jazz. O tempo não se demora em contemplações nem se retrai em lembranças escusadas. Urge e tem pressa, pelo que o melhor é irmos com ele. No cartaz de ontem, outros dois artistas, outro duplo concerto, com as vozes e as canções de Luísa Sobral e Jamie Lidell. Maior diferença, tanto no estilo como na postura artística, seria difícil combinar. A mana mais famosa de Portugal sempre fiel à onda jazzística mais introspetiva e intimista, enquanto que o seu “parceiro” de palco foi mais dado ao soul dançável, ao festejo, à extroversão. Para além da antecipada satisfação em relação à qualidade dos músicos da noite de ontem, o regresso da brisa suave e prazerosa foi forte motivo de contentamento para todos, tanto para o público em geral, como para aqueles que, no palco, tinham o seu trabalho artístico para fazer. Melhor assim. Foi portanto, calmamente e sem agitações que o espetáculo começou, eram precisamente vinte e uma e trinta horas. As surpresas, nem sempre prazerosas, vieram depois, Tanto as naturais como as artísticas.
Com o seu jeito tão próprio de cantar, que por vezes parece tímido e envergonhado (parece também que saboreia cada palavra cantada com a boca aberta de prazer), Luísa Sobral começou o espetáculo com swing de big band, aproveitando para dizer que foi convidada para tocar no EDP Cool Jazz pela terceira vez, coisa que tanto a deixou maravilhada. Simpática e faladora, dedicou uma canção ao pai, pensando no desgosto que teve ao saber que ela, Luísa, escolheu o mundo da música para com ela seguir o seu futuro. A par da conversa em português, naturalmente, foi desvelando as suas canções em inglês, embora a língua de Françoise Hardy também tenha aparecido na sua voz, e foi dessa estrela dos anos 60 e 70 da chanson e do yé-yé franceses que nos lembrámos quando tocou “Je T’Adore”, tema do seu último trabalho. Com guitarra acústica, elétrica ou ao piano, Luísa Sobral foi fazendo nascer devagar, sem pressas, quase de forma impercetível, um concerto cheio de pequenos momentos de beleza. É uma artista com um carisma muito próprio, sem dúvida. Também a nossa língua cantada mereceu a sua atenção, quando interpretou “Inês”, colando-a a “Amar Pelos Dois”, o tema que nos fez felizes na Europa das canções sem grande qualidade. O público cantou com ela, em comunhão a três, digamos assim, sobretudo porque Salvador Sobral estará inevitavelmente ligado a esse “amor” musicado. Depois cantou “Paspalhão”, espécie de canção de engate inocente e infantil, como a própria explicou antes de a interpretar. Foi tudo bonito, tranquilo, suave, avesso ao vento (sempre ele) que aos poucos foi-se mostrando, mais uma vez, surpreendendo negativamente quem se encontrava nos Jardins do Marquês de Pombal. Tocou ainda uma versão de “Hello”, de Adéle, que talvez tenha sido o momento menos interessante do concerto. Esquisito, até, e escusado. Mas gostámos do que ouvimos nos rígidos cinquenta minutos que o Festival atribui ao primeiro dos dois concertos de cada noite.
Depois de uma boa meia hora de “intervalo”, chegou Jamie Lidell e os seus The Royal Pharaohs, banda composta por quatro elementos de peso, habituados a tocar com alguns dos maiores nomes da música internacional como Jack White, por exemplo. O que se ouviu foi funk, soul, r&b e um pouco de disco sound, tudo misturado, remexido e servido sem grandes surpresas sonoras. Dessa receita, convenhamos, nada se ouviu de inusitado, nada nos pareceu de grande brilhantismo, tudo sem entusiasmos de maior. Jamie Lidell anunciou ser este o último concerto da sua turné, pelo que se percebe que a “máquina” está muito bem oleada, quase demasiadamente mecanizada. Apesar de algumas canções serem bem conhecidas do público (como “Another Day”), a verdade é que Jamie Lidell & The Royal Pharaohs não se diferenciaram muito do funk que se vai fazendo pelo mundo fora. Faltou-lhes golpe de asa, faltou-lhes génio, não avançaram acima da mediania. O concerto teve, inclusivamente, momentos aborrecidos, embora sempre ritmados. Talvez esteja aqui um bom exemplo de que há artistas mais interessantes em disco do que ao vivo. E quando a noite voltou a fazer-se ainda mais outonal e pouco cool, foi o jazz da portuguesa a levantar a taça. Nada havia a fazer. Jamie Lidell não conseguiu “aquecer” as largas centenas de pessoas à sua frente. Foi pena, mas a verdade não foi muito diferente do que aqui lhe contamos. Tudo muito mediano para um nome de tanto estrelato.
Fotografias gentilmente cedidas pela organização