O álbum é de 2013 e eu já devia ter escrito sobre ele há muito tempo, mas nada está perdido e agora até parece mais oportuno: em Fevereiro, Lorde ganhou dois Grammy e em Maio vem ao Rock in Rio (RIR), em Lisboa. Ok, ganhar um Grammy não é indicador máximo de qualidade e o RIR não é bem a cena do Altamont, mas e daí, também não é a Lorde.
A miúda (acho que já todos sabem que ela tem 17 anos) faz canções que estão mesmo ali entre a pop, a pop alternativa ou a pop disfarçada de indie. Como a Lana Del Rey, mas mais introspectivo e mais negro. A Lana Del Rey é mais gráfica, apela mais à imagem e ao vídeo. É verdade que o vídeo de “Royals”, o single de estreia de Lorde, também teve o seu impacto, mas até esse é mais sério e remete mais para o conteúdo.
Aliás, um dos elogios que mais têm feito a Lorde nas críticas é o da moça ter uma maturidade pouco comum para uma rapariga de 17 anos. O single “Royals” – a canção que fala em conduzir Cadillacs nos sonhos, contar trocos para as festas e que ela nunca será da realeza – é um bom exemplo disso. Mas também é a “Ribs”, onde diz que é assustador envelhecer e pede ao aos pais para ficar em casa.
Ou mesmo “400 Lux”. Nunca se sabe ao certo o que os artistas querem dizer nas suas canções – podemos interpretar aquilo e depois sai tudo ao contrário! – mas pareceu-me que “400 Lux” é uma canção de amor. “Deixa-me matar tempo contigo” canta logo no segundo verso. Foge ao cliché.
Calculo que seja nisto que Lorde – o nome artístico de Ella Maria Yelich-O’Connor – se distingue. As canções de amor são do mais curriqueiro que existe. Basta dizer “I love you” e fazer um vídeo com fogo de artifício, balões ou ursinhos ou, se for uma cena mais adulta, dizer “You’re the one” e mostrar uns passeios na praia, umas brincadeiras de almofadas e uns cenários muito imaculados.
É claro que depois é preciso que a música propriamente dita acompanhe esta maturidade ou factor distintivo. E é aqui que ela tem que crescer mais. Apesar da sonoridade ser mais sombria e até intelectual, Lorde teve de lhe integrar uns trechos pop para, provavelmente, ficar mais acessível, o que faz com que tudo pareça um bocado igual.
Foi por isso que, quando ouvi o álbum pela primeira vez apanhei uma desilusão enorme. Tinha “Royals” como ponto de partida – que é uma excelente canção! – mas o resto dos temas pareceram-me muito iguais uns aos outros e com demasiado recurso às máquinas em vez de aos instrumentos. Mas depois encontrei por lá outras canções que estavam mais à altura de “Royals”, como a “400 Lux” ou a “Team”.
Conclusão: Pure Heroine não é brilhante como o single que lhe deu sucesso, mas ouve-se muito bem e quem sabe pode ser o pontapé de saída para que Lorde seja menos pop disfarçada de indie.