Linchpin e Thörne encheram o Vortex para duas belas demonstrações de força e de peso do underground metálico nacional.
Bendita a hora em que a fome de metal se juntou à acumulada vontade de conhecer o Vortex para me empurrar porta fora de casa e me fazer enfrentar a intempérie rumo às Olaias. Noites como estas aquecem-nos por dentro e dão-nos força para encararmos todo o tipo de negrume que nos espera lá fora … e cá dentro!
A escolha do tema da luta interior não é nem inocente, nem uma tentativa de catarse indirecta deste vosso escriba, mas algo que impregna os tecidos sónico e lírico tanto dos Linchpin como dos Thorne.
Os Linchpin atravessaram o Tejo para nos mostrar o fresquíssimo EP Blossoming Decay. E se as primeiras audições do disco (pré-concerto) já me tinham deixado entusiasmado, a sólida atuação do quarteto no Vortex contribuiu para lá voltar mais umas tantas vezes.
O som dos Linchpin parece estar apoiado numa estrutura que enriquece a herança deixada por bandas seminais como Converge* ou Lamb of God. O groove robusto derramado pela dupla Tiago Castro (baixo) e Sebastião Pedrosa (bateria) aditivado por tons sublimes de tão arrastados do primeiro e da mestria técnica do segundo, suportam as deambulações angulares da guitarra (será só uma, mesmo???) de Marco Adrião, temperadas a breakdowns que nos deixam respirar e acumular a tensão que João Almeida (voz) aproveita para atacar todos os seus demónios.
E como se a tela sónica dos Linchmob não fosse já suficientemente interessante, a banda consegue juntar-lhe uma série de outros elementos sem beliscar a sua consistência e identidade, de onde se destacam a sua veia post-rock plena de textura e pequenos apontamentos deliciosos como “Absense” – que me deu coragem para voltar à minha era preferida dos Katatonia – ou o com a voz feminina em “Noose Nonsense” – que me trouxe à memória o fabuloso Stacked up dos britânicos Senser.
A noite começou com a estreia dos Thörne em palcos lisboetas. Na bagagem, a banda de Viana dos Castelo trouxe uma outra forma de enfrentar o negrume, abraçando-o!
Caminhando pelos mesmos trajectos palmilhados por nomes como Neurosis ou Enslaved, os Thörne utilizam a sua vasta gama de recursos de forma consistente e personalizada. Casando registos mais lentos e arrastados com ataques vorazes de peso e velocidade, a banda nortenha aposta ainda muito, e bem, na dinâmica que consegue desenvolver com 3 vozes, todas convincentes nos diferentes registos utilizados!
Contando com um álbum Octagon (2019) e o single “Those Golden Rules” (2023), o quinteto de Viana do Castelo conduziu uma atuação intensa e vibrante, deixando-me muito curioso em relação aos seus próximos passos musicais.
À saída do Vortex, enfrentei a noite fria e húmida de alma cheia, muito bem tratada por duas bandas do underground nacional, por ter conhecido mais uma sala de concertos em Lisboa, com as melhores condições e, ainda por cima, fruto do espírito e empenho associativo.
* As bandas apresentadas nesta reportagem como referências para o som dos Linchpin e dos Thörne reflectem apenas as minhas influências.




























