A banda, constituida por alguns dos nomes mais importantes da música portuguesa das últimas décadas, apresentou o seu disco de estreia em Lisboa, em duas noites com lotação esgotada.
Quando em Outubro do ano passado foi anunciado que Pedro da Silva Martins, Carlos Guerreiro, Nuno Prata, Luís J Martins, Sérgio Nascimento e Maria Antónia Mendes se juntariam num novo projecto, os Cara de Espelho, as expectativas foram logo bem elevadas. O disco, lançado em Janeiro deste ano, comprovou que seria um dos álbuns do ano, mas sou daquelas que acredita que apenas em concerto conseguimos compreender verdadeiramente as canções, uma espécie de materialização do conjunto letra, música e interpretação.
O Altamont assistiu à primeira data, aberta depois do primeiro dia esgotar. Também o dia adicional ficou com casa cheia, um sinal de que o público português, e não só porque consegui identificar algumas pessoas na plateia que apenas falavam inglês, está sedento de boa música, sobretudo da música dos Cara de Espelho.
O concerto começou alguns minutos após a hora anunciada, os músicos apresentaram-se em palco por entre um jogo de luzes em que apenas conseguimos perceber as suas silhuetas, e logo na primeira canção, “Morte do Artista”, a magnifica voz de Mitó Mendes conseguiu deixar o público sem fôlego em poucas palavras “(…) quem carregue o meu caixão aos ombros, que me leve a dançar (…)”.
A energia presente na interpretação das canções chegava a ser teatral, e várias canções se seguiram até que a banda saísse de personagem e cumprimentasse a sala, certamente que muitos como eu, nem reparou nesse pormenor tal a intensidade que emanava do palco.
O disco homónimo foi tocado na íntegra sem muitas interrupções, apenas houve paragens para apresentação dos músicos, agradecimentos e uma dedicatória no tema “Livres criaturas” (“para aqueles que lutam por uma sociedade mais justa e não apenas para alguns”). O público teve ainda direito a ouvir alguns inéditos : a “Roda do crédito”, “Já vou”, “O que esta gente quer?” e “Aldeia fantasma”.
Em concerto, as canções vivem sobretudo de três elementos, a voz de Maria Antónia Mendes (com a emoção na voz típica do fado, mas que consegue ir mais além), a secção rítmica da responsabilidade de Carlos Guimarães (rodeado de vários instrumentos. Sanfonas, flautas de pã e outros instrumentos não identificados) e as letras de Pedro da Silva Martins (belas e cirúrgicas, com a crítica politica e social tão necessária nos dias de hoje).
O concerto terminou, depois de uma ovação em pé, com a canção “Corridinho português” que conta que “triste é quem fica a ver dançar” e por isso, no final de uma noite bem feliz, ninguém quis fazer parte da tristeza e todos permaneceram em pé para dançar com a banda nesse corridinho pós-moderno.
Alinhamento
- Morte do artista
- Cara que é tua
- Corridinho português
- Paraíso fiscal
- Fadistão
- Genuinamente
- D de denúncia
- Roda do crédito
- Dr. Coisinho
- Já vou
- Político antropófago
- O que esta gente quer?
- Livres criaturas
- Testa de ferro
- Varejeiras
Encore:
- Tratado de paz
- Aldeia fantasma
- Corridinho português
Fotografias cedidas por Joana César.