Lana explodiu em 2012 e parecia que ia durar um verão, qual paixão de secundário descartada no fim da mocidade. Quatro álbuns depois, ela por aí continua – feiticeira, serpenteante, ótima compositora e dona de uma estética muito própria.
Lust for Life, acabado de editar, é o quarto disco de originais – em seis anos – da norte-americana Lana Del Rey, depois de um primeiro disco em 2010 editado num registo mais caseiro. Em 2017, Lana sorri: o novo álbum inclui dos melhores momentos da sua carreira mas o sorriso na capa de Lust for Life indicia uma segurança maior que a ternura do bom momento.
Que não é fácil entrar no universo cinematográfico e melancólico de Lana, não é novidade nenhuma. O novo álbum incorpora novidades no som global da artista – há mais hip-hop, r’n’b, uma maior felicidade global –, mas quem nunca engraçou com a feiticeira, dificilmente será agora que descobrirá algum particular chamamento.
Indesmentível é, contudo, o superlativo modo como Lana Del Rey tem desenhado a sua carreira: bem acompanhada, já se fez rodear por nomes gigantes do rock (Dan Auberbach, dos Black Keys), e em 2017 junta-se, por exemplo, a Stevie Nicks (grandiosos Fleetwood Mac) e ao omnipresente The Weeknd. O resultado, em ambos os casos, é feliz, mas o mais reconfortante é saber e escutar uma personalidade musical imaculada e pouco flexível (elogio!) a elementos terceiros. Lana Del Rey é já dona de uma estética muito própria, e não é só a frágil mas intempestiva voz que sustenta esta afirmação.
O cinema e as ambiências de Holywood, ecos de Phil Spector, uma beleza entre o angelical e o malandro, e uma pop tão sonhadora quanto feita de desencanto: estas são as marcas maiores da música de Lana, e Lust for Life assenta de forma consistente na carreira da artista abrindo, ao mesmo tempo, novas portas e janelas. Lana Del Rey é muito mais do que aparenta, e mesmo com tanto ruído e densidade à sua volta, consegue ter canções que se sobrepõem ao falatório lateral. E isso é bom.