A noite de ontem foi dupla, mas talvez seja necessário explicar um pouco melhor esta afirmação inicial para que todos a entendam em pleno: o conceito Uma Noite, Dois Concertos, trazido pelo EDP Cool Jazz aos Jardins do Marquês de Pombal, está na base do que referi. Helás! Foi, portanto, exatamente isso que aconteceu. Os protagonistas foram os muito conhecidos Nouvelle Vague e Koop Oscar Orchestra, uma espécie de joint venture franco-sueca que animou a quente noite da vila de Oeiras. Assim, no sexto dia do Festival mais cool da linha, os nomes em destaque trouxeram muitos sons do passado, embora envoltos em linguagens sonoras dos nossos dias. Primeiro atuaram os suecos, e só depois os franceses, que se inspiraram no contestatário e famoso movimento artístico e cinematográfico para se batizarem. Ambos animaram a grande quantidade de gente que se deslocou ao local do costume para os verem e ouvirem. Se os segundos fazem sempre um apelo maior ao saudosismo, sobretudo pelo conjunto de canções antigas e intemporais através das suas covers, já dos primeiros espera-se sempre um som de fusão entre o jazz, a electrónica, tiques de cabaret e ainda uns pozinhos de música cujo som se aproxima mais de uma certa aura clássica de composição de canções. Mas nem tudo foi exatamente como estávamos a prever…
Às 21 entrou em palco, com um acordeão em mãos, um dos membros dos renovados Koop, que agora se apresentam como Koop Oscar Orchestra. Entoava “Uma Casa Portuguesa”, e foi assim que se iniciou o concerto da banda de Oscar Simonsson. Estiveram ótimos, mostrando algumas canções novas, sendo que uma delas terá sido a responsável para que o simpático sueco tenha decidido voltar de novo a compor. Chama-se “Livs Psalms” e é lindíssima, embora tão recente que nem nos ares da net ainda a possamos ouvir. Outro bonito momento aconteceu com “Strange Love”, e já por essa altura o concerto começava a ficar marcado por percetíveis falhas de som, embora muito ligeiras. Assim foi acontencendo até ao final do espetáculo, agudizando-se com os Nouvelle Vague até ao ponto de ter de ser interrompido durante uns bons 20 minutos. Mas esse azar talvez tenho sido a sorte de todos, como a seguir se verá.
O que dizer dos Nouvelle Vague, a banda de covers de Marc Coullin, para além da simpatia que todos já alguma vez tivemos por alguns dos temas que gravaram? Talvez não muito mais do que isto… Puro e redondo engano! Desde os primeiros minutos se percebeu que em palco estava alguém capaz de superar em muito o espetáculo que o grupo foi construindo. Um espetáculo dentro do espetáculo, digamos assim. Refiro-me à sensual Liset Alea, a lady in red da noite. Uma verdadeira estrela! Até ao momento de viragem do concerto (a tal interrupção que referimos por motivos de ordem técnica), já tínhamos ouvido e apreciado temas como “Master & Servant”, “Ever Fallen In Love (With Someone You Shouldn’t’ve)”, uma das melhores canções punk de sempre, “Dancing With Myself” e “Making Plans For Nigel”, até que a meio de “Blue Monday” o concerto teve mesmo de ser interrompido. No entanto, quando voltaram, os Nouvelle Vague vieram endiabrados, mas principalmente essa destruidora de corações que dá pelo nome de Liset Alea (apetece-nos repetir estas duas palavras vezes sem conta), que revolucionou o concerto fazendo dele uma festa impensável, apelando a que todos se levantassem, a dado momento, e que viessem dançar para a frente do palco. Passados alguns minutos, Liset e Mélanie Pain dançavam no meio do público, deixavam-se fotogravar (as selfies, sempre as selfies) enquanto cantavam, seguindo o espetáculo, a partir daí, um rumo completamente louco, com ritmos alucinados, copos de vinho, sensualidade sonora e física (Liset em destaque, mais uma vez), uma festança como não nos lembramos de alguma vez termos presenciado! Canções como “I Just Can’t Get Enough”, “Too Drunk To Fuck” (com incrível coreografia a condizer, evidentemente), “Putain” (introduzida por referências cómicas ao que os franceses sentiram depois de terem sido derrotados por nós no recente Euro futebolístico), “Love Will Tear Us Apart” e “The Killing Moon” foram desfilando durante o concerto e nos vários encores a que tivemos direito. Em tudo isto houve toque de génio, sobretudo por parte de Liset. Desculpem, mas é inevitável e obrigatória esta insistente referência. É que, de repente, todo o mar de gente que assistiu à festa só queria estar ali, e em mais nenhum outro lugar do mundo. Foi mágico, foi desconcertante e foi belo. Foi quase um sonho. Tudo, queremos crer, por causa dos tais benditos problemas sonoros, que fizeram com que os Nouvelle Vague quisessem apagar a menos boa imagem que foram forçados a passar, embora sem o mínimo de responsabilidade própria. E ainda pediram desculpa, note-se. Acabaram por dizer que aquele fora mesmo o melhor concerto de sempre da banda, e isso muito se deveu ao público que tão empaticamente viveu com eles aquelas quase duas horas de delírio.
Uma última nota para terminar. Na magnífica noite de ontem, por culpa dos Nouvelle Vague, foram os franceses que nos deram uma tareia. Das boas, acreditem. E isso foi a melhor coisa que nos podia ter acontecido.
- fotos da ETIC gentilmente cedidas pela organização do EDP Cool Jazz fest