É sempre bom ir descobrindo, e dando a conhecer, objectos estranhos que podem tornar-se a banda sonora de muita gente, que de outra forma não a ouviria. Desta vez, a honra cabe aos Klaus Johann Grobe, ilustres desconhecidos por terras lusitanas mas que fizeram um dos discos mais interessantes de 2016, até agora.
A banda é composta por dois suíços, de Zurique, que se juntaram há uns anos e que agora, com o segundo álbum, prometem começar a fazer as pessoas reparar neles. O disco em causa é Spagat der Liebe, qualquer coisa como o equilíbrio do amor. Como se pode ver pelo título, todo o disco é cantado em alemão. Isto, juntamente com a capa que nos remete para os épicos dos anos 70, bem como o som a partir de uma base krautrock, são as pistas necessárias para começar a entender este enigma europeu.
Não é, de facto, muito habitual ouvirmos bandas alemãs ou bandas suíças. Daí que a associação ao kraut de uns Kraftwerk seja quase imediata, até porque claramente estes rapazes fizeram aí o seu ciclo preparatório musical. No entanto, com audições repetidas de Spagat der Liebe percebemos que esse é um raciocínio redutor. Sim, a base está lá, a nossa associação mental é inevitável, mas os Kaus Johann Grobe não se limitam a uma cópia dos heróis de tempos idos, como os Can, os Neu! ou os já mencionados Kraftwerk.
Isto porque, em cima de uma sólida base de bateria maquinal reminiscente das tropelias do estúdio Kling Klang, há todo um mundo que se desenha. Em primeiro lugar, o baixo, um baixo pulsante incrível, que está sempre colocado à frente da mistura. Depois, uma catrefada de sintetizadores vindos directamente da Dusseldorf dos anos 70. Tudo isto dá ao som da banda uma vibração swingante, um entusiasmo que puxa à dança (ouça-se a estrondosa “Rosen des Abschieds”, por exemplo).
O que estes moços suíços nos trazem é uma orgia de sintetizadores, baixo e bateria, com as vocalizações simples a trazerem-nos o charme alemão do kraut. Mais, partem dessa raiz mas procuram sempre o formato canção. Se os Kraftwerk queriam fazer música que parecesse tocada por robots, os Klaus Johann Grobe agem como se esses robots se houvessem revoltado e acasalado com humanos cheios de soul e de funk.
Spagat der Liebe, disco deliciosamente retro, é uma combinação psicadélica irresistível, uma bela descoberta e uma das grandes surpresas deste ano.