Loops In The Secret Society é um belo objeto sonoro, uma nave espacial onde encontramos ecos de temas de dois álbuns anteriores de Jane Weaver, agora com roupagens celestes e futuristas. Um mimo!
Por vezes, o melhor é darmos um passo atrás, para que o seguinte seja feito de forma mais segura. Recuar um pouco, mas em direção ao futuro próximo, se assim se pode dizer. Vem tudo isto a propósito de Jane Weaver ter um disco novo a caminho, e por isso resolvemos regressar ao seu trabalho de 2019 como aperitivo antigo para que a degustação que aí vem se faça antecipando um pouco o sabor melódico dos seus típicos ingredientes sonoros. É uma estratégia como qualquer outra, convenhamos. Pode até nem resultar como desejamos, mas o prazer da escuta de Loops In The Secret Society já ninguém nos tira. Há muito que não passávamos os ouvidos por essa longa viagem inebriante, e tão cedo não a vamos largar da mão. É tão belo, tão misterioso e tão inquietante, que parece impossível que o tivéssemos esquecido durante tanto tempo!
Loops In The Secret Society foi feito juntando-se temas de dois álbuns da compositora, cantora e guitarrista inglesa Jane Weaver. Com novas roupagens, claro está. Os discos usados como pretexto para a criação de Loops foram The Silver Globe (2014) e Modern Kosmology (2017), que não escapou ao radar Altamont, e que por aqui chegou a ser votado como um dos melhores álbuns do ano, por um escriba cá da casa. Na verdade, Loops In The Secret Society é um desafio sonoro fantástico, uma aventura sem paralelo no universo de Jane Weaver, e que por isso merece ser revisitado sem urgências, sem pressas, para que tudo resulte como deve resultar, na perfeição.
Loops In The Secret Society demora-se por um pouco mais de uma hora, e esse é o primeiro dos seus atributos. É extenso, sendo que esse espreguiçar prolongado de tempo não custa a passar. Antes pelo contrário. Talvez porque já há muito fizemos esta aprendizagem essencial: a serenidade e a lentidão são melhores companhias do que os enganos da urgência e dos apertos em que tantas vezes nos deixamos levar. Colocar um travão à premência da celeridade, é abrir portas ao prazer de permanecermos onde nos sentimos bem, e isso pode ser feito num qualquer lugar, num livro ou num disco, como é agora o caso.
Loops In The Secret Society matém um certo equilíbrio nas suas propostas. Por vezes, algum do seu experimentalismo leva-nos para certas paisagens sonoras de encantamento e mistério. No entanto, são também vários os momentos em que nos apetece mover o corpo, cedendo com agrado ao convite da dança e do psicadelismo luminoso que se encontra em Loops. Apesar de merecer ser ouvido de seguida, pois é dessa forma que o álbum mais se revela, não resistimos em salientar os momentos mais marcantes dos seus vinte e dois temas. A saber, e sem grandes explicações, aqui estão eles: “Element (Loops Variation)”, que abre o disco e que nos dá o tom kraut sonhador que vai habitando todo o trabalho; “Arrows (Loops Variation)”, um quase suspiro ao ouvido que acalma e nos faz levitar da realidade à nossa volta; “Slow Motion (Loops Variation)”, por ter como base uma das mais bonitas canções deste século e ainda “Majic Milk (Loops Variation), porque parece definir a floresta de sons onde nos podemos perder e encontrar permanentemente, resumindo Loops In The Secret Society de forma mais do que perfeita.
Este trabalho de Jane Weaver é fruto de uma ardente imaginação. Há nele algo que nos aproxima do imaginário da ficção científica, dos livros de Arthur C. Clarke, de Frank Herbert, de Robert A. Heinlein ou de Huxley, por exemplo. A faixa “Ivana Vessel”, entre tantas outras, caberia bem como banda sonora de qualquer uma das mais conhecidas obras dos autores mencionados, mas também nos momentos que temos para nós, nos mais íntimos instantes em que nos reconciliamos com o prazer lento e preguiçoso de ouvir boa música, e isso faz-nos mesmo muita falta na correria dos dias em que levamos a vida.