Sempre foi fácil e até cómodo não levar os James demasiado a sério. Seja pelos seus hinos pop massificados dos anos 80 seja pelo facto de darem mais concertos em Portugal do que o Lloyd Cole, muita gente sempre olhou os britânicos como uma espécie de ‘guilty pleasure’ que se escondia dos melómanos mais empedernidos. Ora isso é um erro, aliás é sempre um erro, e no caso dos James eles bem se têm esforçado por dar-nos razões para lhes darmos atenção.
Um dos problemas da banda que nasceu na Manchester do início dos anos 80 foi uma das suas forças: a capacidade para construir hinos pop com tudo no sítio, e acrescentar-lhes alma (que é que falta em muita da “pop” de hoje) faz dos James uma óptima banda de singles, com o reverso da medalha de ver ignorados muitos dos seus discos. Que habitualmente até são bem coesos e bem feitos.
Estranhamente, a Inglaterra parece ter redescoberto agora os James, com Girl at the End of the World a ameaçar terminar a semana da sua edição no primeiro lugar do top, destronando a insuportável Adele (nem que seja apenas por isso, obrigado). Eles não têm andado desocupados, têm lançado discos com regularidade, para desprezo público e aceitação por parte dos fãs de sempre. Parece que as coisas agora podem mudar, mesmo que o mérito não deva ser atribuído totalmente a este novo disco.
O que surpreende ao início é a energia da banda, através do tema de abertura “Bitch”, mostrando uns James confiantes, ousados, juntando às suas habituais guitarras um toque de electrónica que assenta muito bem. O problema é que a electrónica não se fica por um contraponto discreto e eficaz. Em “Attention”, o que começa como uma balada clássica de James descamba numa insuportável “música” de carrinhos de choque a lembrar os DJ que fazem as delícias dos imberbes em qualquer Sudoeste desta vida. Depois disto, fica a dúvida, difícil de apagar: os James encontraram um novo rumo, com segurança, ou estão a disparar em todas as direcções, ainda por cima nalgumas muito, muito perigosas?
“Nothing but love” acalma-nos um pouco, com o seu toque celta e uma melodia a lembrar as coisas boas dos Travis (que ainda andam por aí, embora ninguém queira saber).
“Dear John” traz-nos mais sintetizadores, mas numa estrutura mais clássica de canção, com um ambiente a lembrar alguma new wave mas sem demasiado “azeite”, o que se agradece. Já “Feet of Clay” traz-nos aquilo que adoramos nos James, uma música pop muito bem feita e muito bonita, com a sempre competente voz de Tim Booth a mostrar-se em forma. Depois volta a martelada foleira e suburbana de “Surfer’s Song’, que mistura ecos dos saudosos Lightning Seeds com o europop que os Coldplay andam desastradamente a tentar fazer há dois discos. “Catapult” começa por evocar a energia dos U2 na altura de Pop, com o sintetizador lá atrás a ameaçar, qual abutre, tomar conta dos acontecimentos e atirar para o lixo mais um tema interessante. A banda resiste à tentação, felizmente. “Waking” cumpre os mínimos de uma música dos James, para o disco fechar com “Girl at the end of the World”, uma boa música pop com potencial para um ‘singalong’ de estádio.
Este disco poderá estar a trazer os James para o reconhecimento público que a sua carreira merece, mas é até pena que isso aconteça com base em The Girl at the End of the World. Entre o desbravar de novos caminhos e a opção pelo mais básico do eurotrash (e o que dizer desta capa?…) fica a indecisão de para onde querem os britânicos ir. Se bem que gostemos de aplaudir a busca, há por aqui pecados estéticos que acabam por manchar a meia dúzia de boas músicas que os James nos conseguiram dar. Era escusado, e há vários “discos perdidos” dos James que merecem mais a nossa atenção.