Desde o seu colossal aparecimento no mundo da música, em 1967, que Leonard Cohen tem inspirado gerações sobre gerações. Com a sua personalidade única e a sua música assombrosa, Cohen tornou-se num dos artistas mais originais e duradouros da década de 60. Em “I’m Your Man” de Lian Lunson, é-nos facultado um olhar intimista sobre as músicas, poesia e vida de um dos trovadores mais famosos e influentes da história da música. É de facto um filme que nos ajuda a perceber a incontornável importância que o músico canadiano teve junto de muitas das personalidades de relevo da música dos dias que correm. Mas antes do filme, muito antes do filme, já nós tínhamos ao dispor uma compilação antológica do trabalho erigido pelo mestre da fala cantada… Estávamos em 1991 e os franceses da Inrockuptibles tiveram a preciosa ideia de homenagear o trabalho de Leonard Cohen. Acabados de sair da fúria expressionista dos oitenta, a nova década abria um mar de oportunidades conceptuais. E foi assim que aconteceu. As coisas mudaram, mas as bases não estavam esquecidas. As letras e as composições vinham de algures.
“I’m Your Fan” revela a ampla gama de talento de Cohen como compositor e a sua estonteante variedade de “vozes” e estilos. Após a oração “Who By Fire” pelos The House of Love , Ian McCulloch sobe ao palco e diz-nos “Hey, That’s No Way to Say Goodbye”- afinal, estamos ainda no princípio; acrescentando o seu próprio toque melancólico à tristeza sublime desta música. Depois irrompe a tempestade dos Pixies através do seu característico ritmo acelerado, para a seguir Stephen Duffy dos The Lilac Time nos acariciar gentilmente com “Bird On A Wire”. Os James fazem um sinuoso mas comovente “So Long Marianne” seguidos pelo cantor ugandês Geoffrey Oryema cujo “Suzanne” é embelezado por uma doce flauta e um trio de guitarras folk, a terminar num coro cheio de graça. Muito forte é a exploração de David McComb que abala a acalmia através de chocalhos e rolos, juntamente com o melhor das batidas meio psicadélicas. Lloyd Cole, com o seu timbre único leva-nos ao “Chelsea Hotel”, onde aparentemente Cohen manteve encontros amorosos secretos com Janis Joplin. Numa aparição pesarosa, Cathal Coughlan dos Fatima Mansions revela-nos que o fim está para breve. Mas a estrela do espectáculo é mesmo John Cale que pinta com verdadeira mestria a imensa paisagem sonora apenas com a sua voz e o piano em “Hallelujah”, um clássico que teria permanecido enterrado na própria versão bastante monótona de Cohen. Outros não serão tão grandes, como é o caso da interpretação dos REM um tanto ou quanto desleixada. E em “Tower Of Song”, Nick Cave revela inútil o esforço experimentalista que dispende ao longo dos quase seis minutos de devaneio, tema que aliás é melhor interpretado por Robert Forster. Mas estes e outros apontamentos são meras impurezas no combustível que em nada afectam a performance do intento.
Orientadas pela luz de um dos grandes criadores, as bandas (e os artistas) que vieram preencher as nossas memórias da década de 90 convergem num interesse comum: a exortação da música intemporal. E sem dúvida, neste disco de tributo figuram as músicas mais interessantes e intemporais do início de carreira do canadiano. Neste retrato de admiração, refaz-se a história da música em reinterpretações (perdoem-me a heresia- corro sérios riscos de ser apedrejado na via pública), quase tão boas como as originais! E como podemos constatar, o que acaba por ser uma prova de grande fiabilidade, raras são as vezes que tantos ilustres encontram consenso. Por isso, I’m Your Fan é assim como que um compêndio de biblioteca. Um dois em um que mais parece uma enciclopédia de sempre. Um disco para ouvir e nunca esquecer…