Hamilton Leithauser trouxe rock’n’roll, alegria, diversão, sentimento e um entusiasmo que nos encheu de borboletas na corrente sanguínea.
A noite prometia. Não chovia, não estava frio e foi fácil de chegar ao LAV. Em suma, um bom prenúncio para o que viria por aí.
A noite começou com Jo Alice, cantora portuguesa, filha de pai francês e mãe anglo-irlandesa, que cresceu entre Faro e Irlanda e que já tocou no SXSW. Encantadora e de voz calorosa e cheia de sentimento, apresentou-nos um folk delicado e cativante, que nos fez lembrar os primeiros tempos de Sharon Van Etten. Pelo meio, ainda se aventurou (e bem) numa cover de “Ne Me Quitte Pas” de Jacques Brel.
Ainda sem disco lançado, mas com alguns singles disponíveis, a sua presença em palco mostrou uma artista segura de si e a um passinho de se tornar um nome reconhecido no mundo da música (leram aqui primeiro!).
Entretanto, já com o bem-estar cimentado (obrigada, Jo!), e com uma sala já muito bem composta (apesar de não ter esgotado, ao contrário do concerto no Porto, no dia seguinte), o que é que uma pessoa faz enquanto espera pelo artista principal? Ora, há lá coisa mais interessante do que observar pessoas. Claramente um público composto por elder millennials (olá!) e genxers, com aquela vibe de “nem-acredito-que-vim-a-um-concerto-a-uma-quinta-feira-estou-louco/a”, mas a resistir. E ainda bem.
Assim que se vislumbrou a banda a subir ao palco, o público já estava muito entusiasmado: assobios, gritos (e gritinhos), palmas. Havia muito amor para dar.
Quando Hamilton Leithauser chegou ao microfone e lançou um entusiasmado “Hi!”, foi prontamente correspondido pela plateia. “My name is Hamilton and I’m from New York. I brought my band, all Texans, and I came to play songs from my new record.”
O músico nova-iorquino explicou que este era o primeiro concerto da tour europeia (e Reino Unido), avisando que “We didn’t even rehearse”. Honestamente, se que o que assistimos foi tocar sem ensaiar, há que dar a mão à palmatória e dizer que há pessoas mesmo talentosas. A única meritocracia que importa, a bem ver.
Entre guitarradas sonoras e uma presença super cool, Hamilton revelou-se simpático, (super) falador, entusiasmado e divertido, estilo rock’n’roll dad cheio de histórias pessoais que contextualizam as músicas. Posso estar errada, mas tenho a impressão de que o músico fez uma pequena introdução em quase todas (se não todas). É maravilhoso quando isto acontece, traz uma proximidade entre artistas de público, que é difícil de esmorecer.
A energia nunca vacilou (vê-se logo que é o primeiro concerto da tour): boa setlist, com músicas do novo disco, misturadas com canções do álbum com o Rostam (“I Had a Dream That You Were Mine” ), o público rendidíssimo, aplausos constantes, corpos dançantes e muitos braços no ar. De notar, numa das músicas, mesmo no início, reparei que estava um rapaz de olhos fechados, torso e pés a dançar, de dedo erguido, aquele gesto universal do “isto é mesmo fixe”.
Quando dizemos que Hamilton falou muito, é que falou mesmo muito. Afirmou que a “What do I Think” é a sua canção favorita, do mais recente disco “This Side of the Island” (e sim, é bonita), e confirmou aquele medo coletivo (nenhum sentimento é individual, já sabemos) do “será que isto é sobre mim” dizendo, com todas as letras “this song it’s about a friend of mine, but it’s fine, she’ll never know.”, gargalhando de seguida (ri de nervoso).
Ainda teve tempo para confiar em nós que a canção “This Side of the Island” tinha sido composta numa altura em que estaria a passar por tempos mais difíceis mas que não quereria ser demasiado sincero e fazer uma música que “deixasse toda a gente deprimida — pelo menos não muito”.
Não será injusto dizer que o momento alto do concerto foi quando começaram os acordes de “A 1000 Times”. Houve, de facto, uma espécie de comunhão entre o público, com os sorrisos a multiplicaram-se e as vozes a cantarem alto.
O concerto terminou com um encore, encerrando uma noite que soou tanto a celebração como reencontro. Saímos de lá de coração cheio (todos).
Setlist:
Fist of Flowers
Ocean Roar
Knockin’ Heart
Sick as a Dog
(Hamilton Leithauser + Rostam song)
When the Truth Is…
(Hamilton Leithauser + Rostam song)
Here They Come
What Do I Think?
In a Black Out
(Hamilton Leithauser + Rostam song)
Off the Beach
The Bride’s Dad
(Hamilton Leithauser + Rostam song)
A 1000 Times
(Hamilton Leithauser + Rostam song)
I Was Right
This Side of the Island
Peaceful Morning
(Hamilton Leithauser + Rostam song)
Encore:
Alexandra
Happy Lights
Room for Forgiveness
Fotografias: Hugo Amaral





















