Cumpriu 23 anos esta semana, o Nevermind. O maior de todos os discos dos idos 90, o pontapé de Seattle no Mundo e afinal só o resultado das tardes de três desorientados rapazes em estúdio. Chris Novoselic, Kurt Cobain e o estreante Dave Grohl. «Smells Like Teen Spirit» e «Come As You Are», se gostarem de hits. «In Bloom», se forem dos meus. «Breed» se forem acelerados ou a «Something in the Way», se estiver de chuva. Foi acidente? O Kurt Cobain descobriu o génio? Butch Vig? Sorte? Foi o efeito Grohl? Separados nunca teriam ‘existido’? Aceito.
E depois o tiro.
O sucesso foi grande. Tão grande que Novoselic nunca mais fez nada; tão grande que ainda hoje a Courtney Love existe. E o Grohl? Fez uma banda e lançou-se. Onde uns viram aproveitamento, outros quiseram seguir o último dos Nirvana e poucos estavam só para ouvir a música. Eu não estava. Juntei-me aos fãs no Alive, salvo erro, em 2011. Hoje estou entre os que lhe agradecem mais do que meia dúzia de boas rockalhadas.
Grohl não abrandou. É dele a bateria no melhor momento dos Queens of the Stone Age. É dele a bateria num dos melhores discos de rock que conheço. Them Crooked Vultures, gravado na companhia de John Paul Jones e Josh Homme, não pegou, é um facto. Falta-lhe um single. É de Homme o mérito nos QOTSA. Com um Led Zeppelin até eu fazia bom rock? Aceito.
Wembley.
É quase música sinfónica o arranque de Nevermind. E Charles R. Cross, autor da melhor biografia de Cobain, diz que se percebe toda a música mesmo antes da entrada em cena de Cobain. Tem razão. A bateria é só épica. Em «No One Knows», Grohl haveria de a transformar num verdadeiro deboche. E na versão Them Crooked Vultures, a que o Mundo ainda não deu o devido valor, apresenta «Elephants», a malha que devia ter lugar nos manuais da escola – rock n’ roll.
Cobain e Homme.
Grohl nunca andou mal acompanhado. Ter Cobain e Homme como parceiros é, no mínimo, um luxo. E até em Wembley já foi visto, pela casa cheia, a assumir a bateria ao lado de Jimmy Page em Rock n’ Roll e a cantar em «Ramble On». Pelo meio, deu-nos Sound City.
É certo que aos Foo Fighters falta o disco que os liberte da categoria de banda de ‘best of’. Waterboys? Police? Joy Division? A Grohl não falta nada. Está lá o instinto de sobrevivência, um ‘top malhão’ bastante aceitável, mais que um grande momento e até já tem lugar no rock n’ roll hall of fame. Ainda não fez 50 anos e falta, arrisco, uma previsível fase acústica. Terá génio suficiente para um remate à moda das American Recordings de Johnny Cash? E energia? Felizmente, tudo indica que sim.