Um bálsamo que se nos entra pelos ouvidos e se instala de forma contundente em todo o nosso corpo.
Já não é a primeira vez que Liz Harris nos faz isto – em 2014, com Ruins, criou um tratado internacional em capacidade de alheamento ao que nos rodeia no dia-a-dia, qual wormhole que nos transporta para outro tempo e espaço. Este Grid of Points estica um pouco mais essa possibilidade, espécie de parte dois do álbum anterior. É de senso comum dizer-se que as sequelas nunca (ou quase nunca, vá) atingem o nível do primeiro filme, mas neste caso Grid of Points complementa muito bem Ruins, quer no seu minimalismo e leveza, quer na riqueza harmoniosa.
São uns meros 22 minutos que nos causam pele de galinha pela delicadeza da voz de Harris, por cada toque numa tecla do piano, por cada silêncio que os intermedeia. A sensação de tranquilidade invade-nos o corpo desde o arranque com “The Races”, que só pode ser uma grande ironia, uma vez que de corrida esta música (e este álbum) nada tem. Não faz muito sentido discorrer muito sobre as músicas em si, uma vez que se sobrepõem, continuam o que vem de atrás, é um fluxo de melodia que percorre o tempo de vida útil do álbum, mas que nos fica na cabeça mais tempo, a sensação criada permanece para lá do fim de “Breathing”, no fundo, uma das nossas mais importantes funções.
É álbum que requer, tal como escrevi na crítica a Ruins, de silêncio ao redor. Para se potenciar todo o impacto que tem em cada ouvinte, que o poderá utilizar para uma viagem de auto-descoberta, para uma exploração à natureza, para um momento de introspeção. Uma maravilha.