Sempre gostei dos GNR. Não me refiro, obviamente, à força de segurança de natureza militar, mas à outra, à banda que surgiu no boom do rock português, nos idos e tão distantes anos 80 do século passado. O Grupo Novo Rock ainda existe, como se sabe, resistiu ao tempo, nem sempre bem, mas nunca mal. Por isso, mas também por sentir que os GNR fazem parte do lote das melhores bandas pop/rock de sempre do nosso pequeno e recatado retângulo geográfico, escolhi a oportuna edição de Theatro, Circo & GNR Afetivamente ao Vivo da revista Blitz de 28 de agosto, para vos dar conta do prazer que tenho tido em ouvi-lo, alertando-vos para o facto de ser ainda possível encontrar a revista e o CD sem dificuldades maiores. Vale mesmo a pena. Mesmo que não conheçam bem o percurso da banda (ou, sobretudo, se for esse o caso), não há como fugir à sua audição. São 18 temas, imensos todos eles, e mesmo as canções mais recentes do também recente Caixa Negra, têm o condão de se encaixarem perfeitamente no rol de hits que vão entrando alegremente pelos nossos ouvidos.
Vamos, então, ao disco e aos seus intérpretes. Na companhia do trio oficial composto por Rui Reininho (voz), Toli César Machado (piano, guitarras e acordeão) e Jorge Romão (baixo), tocam também Paulo Borges (teclados e harmónio), Samuel Palitos (bateria) e Ianina Khmelik (violino). Todo este elenco serve para se fazer uma grande festa! Comedida, mas grande, sem sombra de dúvida. Vejamos alguns dos incontornáveis temas que por aqui se podem ouvir: “Vídeo Maria”, saudoso tema que causou enorme polémica em 88 devido às múltiplas heresias da letra, “Bellevue”, “+ Vale Nunca”, “Efectivamente”, “Pronúncia do Norte” (que grande canção!), “Sangue Oculto” e “Dunas” são apenas alguns dos temas que fazem parte do alinhamento do CD, bem como das vidas de todos nós. Mas há mais uma boa meia dúzia deles espalhados pelo disco, acreditem. Todos gravados ao vivo, no Theatro Circo de Braga, no passado dia 22 de maio. Há cerca de 25 anos que a banda da cidade inbicta não registava ao vivo os seus temas, e este trabalho revela a preocupação inteligente de não esquecer o seu riquíssimo passado, indo bem lá atrás no tempo, com o sentido de recuperar muitas das pérolas que foram sabendo produzir nas várias décadas da sua já longa existência. Aliás, e um pouco à margem do que escrevo, seria bem bonito encher os Coliseus de Lisboa e Porto no próximo mês de outubro para a celebração conjunta banda-público. Eles merecem-no, e nós saberemos fazer a festa que só a música sabe provocar. Vai ser bom, e o Altamont estará por lá, seguramente.
Um dos pontos mais interessantes deste disco é ouvir algumas das canções que conhecemos como se fossem nossas desde sempre, embora agora com uma nova pele, agora mais despidas das instrumentações originais. Os casos mais evidentes do que digo serão, parece-me, “Video Maria”, que ganha aqui alguns trejeitos de tango, o que lhe fica a matar, mas também de “Morte ao Sol”, esta com forte participação do público. Na verdade, as vertentes acústicas e elétricas estão muito bem doseadas, Rui Reininho apresenta-se bem afinado e seguro da sua voz, sendo que o resto é connosco. É meter a rodela mágica de Theatro, Circo & GNR Afetivamente ao Vivo a tocar, e gozar o facto de termos tido a sorte de sermos contemporâneos de tudo aquilo que nela se ouve, sobretudo no que diz respeito às canções mais antigas. Mas as mais recentes, as do último Caixa Negra, também se misturam muito bem com os temas clássicos, como são os casos de “MacAbro”, “Dançar SOS”, “Cadeira Eléctrica” e “Caixa Negra”, que abre o disco. Estão de parabéns os GNR, e está igualmente de parabéns a revista Blitz pela fantástica iniciativa da publicação do CD. A festa é boa, por isso ponha-se a jeito e entre nela sem hesitar.