Três décadas e meia, afinal, é muito pouco tempo. Os GNR continuam frescos e a idade parece não ter passado pelas suas canções. Fomos ouvi-los ontem, e foi muito bom!
Parece que é mesmo factual e os números não desmentem: há trinta e cinco anos que o Grupo Novo Rock (os GNR, pois claro) anda a entreter-nos a vida com grandes canções, grandes discos e grandes concertos. Nem é bom lembrar a idade que tinha quando escutei pela primeira vez a batida krautiana de “Portugal na CEE”… Those were the days, mas o tempo passou e ontem fui, pela enésima vez, ouvir o que Rui Reininho, Jorge Romão e Toli César Machado prepararam para o concerto comemorativo de já tão longa carreira. Foi no Casino Estoril, no Salão Preto e Prata, lugar no mínimo curioso (para não dizer invulgar) para a banda nascida em Francos, na Rua Airosa, atuar. Sinal dos tempos, evidentemente. Mas isso pouco importa quando é dos míticos GNR que falamos.
Num concerto em que olhar pelo retrovisor foi uma atitude obrigatória, terei de dizer que se fez muito bem essa longa viagem, e senti-me bem vindo ao passado. Todos em grande forma, afinados nas idades e nos modos, sarcásticos e sempre atentos à atualidade, os GNR foram, uma vez mais, aquilo que sempre conseguiram ser: os pontas de lança mais inteligentes da história do nosso pop-rock! Ninguém os bate nessa contenda, efectivamente.
A primeira metade do concerto foi mais morna, digamos assim. Espécie de aquecer os motores para uma ponta final em curva ascendente. No entanto, e apesar desse início mais tranquilo, a verdade é que a banda tem material mais do que suficiente para preencher duas horas de espetáculo sem que ninguém se possa queixar. Ora confirmem e digam que não há aqui pano para mangas largas e requintadas: “Bem-vindo ao Passado”, “Video Maria”, “Efectivamente”, “Caixa Negra”, “Cadeira Eléctrica”, “Ana Lee”, “Homens Temporariamente Sos” (tema cantado por Rita Redshoes, introduzida assim por Reininho: “não há sítio onde esteja o monstro, que não venha a Bela”), “Asas”, “Bellevue”, “Vocês”, “Valsa dos Detectives”, “Sete Naves”, “Sangue Oculto” (cantada de novo com Javier Andreu, vocalista da banda hermana La Frontera, vinte e cinco anos depois de ter surgido como faixa de abertura de Rock In Rio Douro, esse muito platinado disco dos GNR), “Las Vagas”, “Pronúncia do Norte” (com a presença em palco da grande Isabel Silvestre), “Morte ao Sol”, “Dunas”, “Quando o Telefona Pecca”, “Quero que Vá Tudo Pro Inferno” (de novo com Javier Andreu), “Sub-16” e “Mais Vale Nada”, entre algumas outras (e quem nunca ouviu, pelo menos, dois terços das canções aqui referidas, então é altura de dar por perdido e amaldiçoado o tempo que andou a gastar nas últimas décadas, sendo que no dia do juízo final, garanto-lhe, vai ter de prestar contas sérias a respeito da escassez de prazeres que teve na sua vida). No entanto, duas ausências foram muito notadas: por onde andaram os clássicos e primeiríssimos “Sê Um GNR” e “Portugal na CEE”? Na minha cabeça, certamente, mas não no Salão Preto e Prata do Casino Estoril, o que é pena, uma vez que o sentido retrospetivo do show a isso obrigaria.
O concerto foi correndo ao sabor das memórias musicais da banda, mas também das minhas, das nossas, indefectíveis que somos todos da arte do nosso maior power trio (foi assim que estabilizou há já algum tempo) do pop-rock nacional. Os primeiros trinta e cinco anos da banda foram míticos, tiveram altos e baixos, momentos olímpicos (de Olimpo, a casa dos deuses humanos) e outros onde um certo apagamento foi quase total. No entanto, reerguidos dos tempos que os fizeram grandes, os GNR já há muito garantiram um lugar cimeiro no curto podium da nossa história elétrica musical.
Ontem, ficou-me a certeza de ter assistido a um espetáculo sério, honesto, com boa entrega por parte da banda e dos seus convidados, mas também me ficou a impressão de se terem poupado um pouco, talvez pensando no concerto derradeiro de amanhã, na terra natal dos GNR, até porque, como confessou Rui Reininho (embora não o tivesse feito durante o concerto), “no sábado é a final da Taça”. Pois o meu desejo é que a ganhem, que a conquistem. Dessa Taça, não nos podemos esquecer, bebemos todos durante muitos anos. E continuamos a beber. Então que venha, que sendo deles, também é (muito) nossa!