Os lisboetas Ganso estreiam-se em grande com um álbum psicadélico, pastoral e bem-disposto. A editora Cuca Monga volta a fazer bingo.
A Cuca Monga, sediada em Alvalade, está a tornar-se um caso sério. Aquilo que tinha começado como uma espécie de sucursal dos Capitão Fausto (publicando os seus projectos paralelos: Modernos, BISPO e El Salvador), está a caminhar a passos largos para a condição de editora independente de referência. A suspeita começou quando o maravilhoso álbum homónimo de Luís Severo levou o seu selo. Agora, com o encantador disco de estreia dos Ganso também cozinhado debaixo do seu chapéu, a suspeita evoluiu para confirmação e forte expectativa do que virá a seguir.
Mas voltemos aos Ganso. Pá Pá Pá é revivalista até ao tutano, todo ele feito da recuperação do psicadelismo dos meados dos sessenta, mais britânico do que americano, mais pastoral do que frenético blues-rock. A inocência bucólica de Syd Barrett e a magia de carrocel à Sgt. Peppers são as principais referências.
Um órgão vintage bem-disposto, muito west coast, prevalece sobre a guitarra, sempre discreta e elegante, sendo evidente o legado estético dos Capitão Fausto (nomeadamente do seu último álbum). Em particular, a voz de João Sala tem muito de Tomás Wallenstein, proximidades mais do que naturais quando todo o processo criativo foi acompanhado de perto pela banda de Alvalade.
Sonhador e soalheiro, cheio de sentido de humor, Pá Pá Pá é a banda-sonora ideal para quem gosta de fazer piqueniques no meio do campo, regados a ácidos e amoras silvestres.
Pessoal, está quase. É já ir abrindo as janelas do carro. Temos disco para o Verão.