É o homem da bateria de várias bandas e projectos – Orelha Negra, Buraka Som Sistema, Banda do Mar, Sam The Kid, Slow J, 5-30, Dafunksportif, Yellow W. Van, Raquel Tavares…
A lista poderia continuar por mais algumas linhas. Fred Pinto Ferreira tem um curriculum invejável no que toca a percursão e já terá perdido a conta aos concertos que deu ao vivo. Mas há concertos que não se esquecem. E do concerto de ontem à noite no Lux Frágil, seguramente que Fred jamais se esquecerá.
Batem as 23 badaladas, hora marcada para a apresentação ao vivo do seu primeiro projecto a solo, “O Amor Encontra-te no Fim”. E Fred não engana ninguém. Sem cruzar uma única vez o seu olhar com o nosso, tenta passar despercebido. Nem bom dia, nem boa noite. Senta-se. Pela primeira vez em 20 anos, a sua bateria está no centro do palco do seu primeiro espetáculo em nome próprio. E Fred está nervoso como uma criança no seu primeiro dia de escola.
Fred não está sozinho. Alberto Vieira, Ricardo Riquier e Ricardo Dias Gomes ajudam no piano, na guitarra e no baixo, sem nunca nos serem apresentados. E as vozes facilmente reconhecíveis de Zé Pedro, António Lobo Antunes, Carlão e Marcelo Camelo ajudam a envolver-nos na história de “O Amor Encontra-te no Fim”, tocado cronologicamente na íntegra. Mas desta vez os holofotes estão todos no homem da bateria. Nas mãos de Fred, a bateria é um instrumento de ritmo nos contratempos certos e é impossivel não nos envolvermos com ele nesta viagem solitária que foi a criação de um projecto musical a solo.
Foi certamente dos momentos mais tímidos e honestos da carreira musical de Fred. O nervosismo era notório, afinal aquele era o culminar de uma viagem intensamente solitária de criação musical e desenvolvimento pessoal. Sentimos a respiração profunda entre cada canção e sorrimos com orgulho, quando sai da sua zona de conforto para se agarrar ao piano e nos tocar “I See Darkness”, que ficou de fora do disco. Fred sabia que aquele era o momento de quebrar e, mesmo de costas voltadas para nós, sentimos cada lágrima que deita. Neste concerto Fred foi um homem de coragem e essa conquista jamais será esquecida.
Fotografia: Mafalda Piteira de Barros