Ao terceiro disco a banda irlandesa parece ter encontrado o seu ponto de equilíbrio – entre punk mais visceral e shoegaze introvertido, entre aspereza e delicadeza, entre gritar na cara e falar ao ouvido.
Uma das melhores faces da colheita de bandas que vão surgindo na Velha Albion, os Fontaines D.C. lançam-nos Skinty Fia, o seu terceiro trabalho em meros quatro anos. E ouvindo esses três discos há uma palavra que surge facilmente – consistência. Não que o registo e sonoridade de cada um seja igual, há interessantes nuances e características específicas de cada um que os embelezam e os tornam únicos à sua maneira. Mas há claramente uma obra que é formada pelo todo e que nunca perde o seu élan, ao longo das 32 músicas lançadas pela banda. Dando um olhinho às crónicas escritas sobre Dogrel e A Hero’s Death há mais uma consistência que importa ressalvar (para além do escriba ser o mesmo) – a convição e o reforço da mesma da importância do rock. Desta vez não vou deixar para o fim, fica já aqui a meio caminho desta crítica a Skinty Fia – o rock salva vidas.
Entremos então no álbum da capa com um veado perdido num hall de entrada e começamos logo com “In ár gCroíthe go deo” – em português, algo como “para sempre em nossos corações”. Baixo à la Peter Hook no arranque não deixa dúvidas de que o calendário marca o ano de 1980 e estamos perante uns fervorosos adeptos dos Joy Division. As influências passam também por PiL, The Fall e, de uma forma mais premente neste disco, de uns Echo & The Bunnymen (o arranque de “Roman Holiday” tresanda a “Killing Moon”). Mas os Fontaines sabem usar as suas influências e não copiá-las, têm claramente a sua própria personalidade e são orgulhosos dublinenses. Desde a utilização do gaélico no título a referências a um dos dias mais importantes da verve irlandesa (“Bloomsday”) há também em Skinty Fia momentos que trazem à tona os conflitos políticos e tensões sociais vividas pelas suas gentes. Mais um belo exemplo disso é “The Couple Across The Way”, canção que incorpora elementos da música tradicional irlandesa, mas com o toque característico dos Fontaines. Mas (e há sempre um mas) quase todos os membros da banda moram actualmente em Londres e Skinty Fia tem nas suas letras um claro sentimento de viver-se num sítio que parece casa mas no fundo não se consegue ter esse sentimento como adquirido.
Destaque ainda para a mexida “Jackie Down the Line”, bela malha para animar as hostes de festivais por onde os Fontaines já se passeiam como peixes na água. Longe vão os tempos de salas pequenas e obscuras em que a dificuldade de olhar nos olhos das pessoas a cantar “I’m gonna be big!” e convencê-las disso mesmo era latente. Pois bem, já havia poucas dúvidas mas com mais este disco ficam totalmente dissipadas – os Fontaines DC são uma banda grandíssima.