Cohen lutou nas guerras da canção: foi acorrentado a torres, condenado à morte pelos ouvintes e, em dimensões não tão metafísicas, aliado de Israel na guerra de Yom Kippur, data de 1973. Arregimentado para levantar a moral dos soldados, transformou-se, como só ele sabia transformar-se nestas por mais ninguém imagináveis caracterizações, no “santo padroeiro da inveja e {o} merceeiro do desespero, trabalhando para o dólar Ianque.” O ácido corrosivo que vertia da sua pena foi a baioneta mais mortífera: urgir Fidel Castro para agir como um homem e abandonar a terra e propriedade conquistadas, em alternativa dedicando-se o líder cubano a “nada de especial”, a “modos de enfado publicitados como poesia.” E nisto, como se nada fosse, deixando-nos tão calmos como uma explosão, vem-nos falar de namoro, as chamas e a morte em fundo. Era dele e só dele a habilidade, e consequente desse dom o para lá do necessário dever, de tornar todo o assunto uno e universal. E nisto, confessa. A trincheira mais lamacenta e pestilenta é o tédio, sendo o envolvimento romântico, o sexo, simultaneamente antídoto e veneno, mapa e perdição, que sempre conveio a Leonard ser bombeado por corações bélicos, bombardeado por corações não tão belos. Nesta canção, pede contenção dos lados lunares da sua amante até à hora do mais nu e vulnerável dos actos. É isto tanto masoquismo como diplomacia transparente, a liberdade total para ser totalmente quem se é: feio, egoísta, cruel, um pouco inútil. Como a guerra.
“Field Commander Cohen” – Leonard Cohen
