Vivemos tempos de abundância. A facilidade com que hoje se consegue gravar e lançar um disco é espantosa e torna bastante mais interessante o trabalho de quem se alimenta de novas edições.
2016 já vai a meio e é boa altura para fazer um breve resumo dos lançamentos desta primeira metade do ano, no meio de tanta coisa há decerto discos que terão escapado, não só a quem nos lê, mas também a nós que escrevemos. As linhas que se seguem não são um levantamento exaustivo de todos os discos do ano, mas sim daqueles que foram alvo da nossa atenção no Altamont. Sinta-se o leitor à vontade para barafustar por não estar aqui este ou aquele disco, as sugestões serão benvindas.
Recuando até Janeiro, numa altura em que ainda estávamos a acostumar-nos ao novo ano, fomos atingidos por um duplo raio. No dia 8, chegou Blackstar, o disco por que muitos salivavam. Dois dias depois, Bowie morreu e ainda estamos a recuperar.
Na mesma semana, as vizinhas Hinds lançaram o disco de estreia, Leave Me Alone. Janeiro foi um mês bastante concorrido, com novos discos de Daughter, Eleanor Friedberger, Bonnie Prince Billy ou Ty Segall, mas há três que se destacam: The Waiting Room, dos Tindersticks; Night Thoughts dos Suede e o segundo das Savages, Adore Life.
Fevereiro trouxe-nos os DIIV, com Is The Is Are, os Wild Nothing deram-nos Life of Pause, os Kula Shaker quiseram recriar os anos 90 com K 2.0 e os Animal Collective lançaram Painting With.
A Primavera fez regressar o artista mais falado de 2015, Kendrick Lamar, com Untitled Unmastered, bem como outros cabeças de cartaz que vão partilhar o palco com ele no Super Bock Super Rock: os Massive Attack lançaram um EP e prometem disco para mais tarde. Iggy Pop juntou-se a uma turma de sonho, para Post Pop Depression. Em Março saiu também um disco de raridades de Jeff Buckley e novos trabalhos de Joanna Newsom, LSD And The Search For God, ou Cian Nugent e ainda um regresso, depois de 16 anos sem música nova, dos Violent Femmes. No lado dos regressos de peso, encontramos ainda os Primal Scream com Chaosmosis e os Underworld, que concorrem ao prémio de melhor título de disco: Barbara Barbara, We Face A Shining Future.
Abril começou numa sexta-feira, dia das mentiras, mas a verdade é que foram lançados nesse dia uma série de discos, candidatos a álbum do ano. A começar pelo soul brother Charles Bradley, com Changes. Andrew Bird voltou a assobiar com Are You Serious, o tuaregue Bombino ofereceu-nos Azel, Alex Turner e Miles Kane ressuscitaram os Last Shadow Puppets, com Everything You’ve Come To Expect e os Black Mountain estiveram em Portugal para três concertos, para mostrar IV. E com isto ainda nem saímos do primeiro dia de Abril.
Nas semanas seguintes, chegaram City Sun Eater in the River of Light, dos Woods; Man About Town, de Mayer Hawthorne; Human Performance, dos Parquet Courts; Singing Saw, de Kevin Morby; Crab Day, de Cate Le Bon, III de Moderat (ou seja, Apparat mais Modeselektor) e Dreamland, dos Wild Belle. Mas os destaques principais de Abril vão para The Ship, de Brian Eno, e o triunfal The Hope Six Demolition Project, de Polly Jean Harvey.
James Blake tornou-se um dos grandes acontecimentos de Maio, ao lançar, de surpresa, o seu terceiro disco, The Colour In Anything. O outro grande abalo dessa altura foi protagonizado pelos Radiohead, com A Moon Shaped Pool. Depois disso, ficam meio ofuscados discos como Kidsticks, de Beth Orton, os os trabalhos de Travis, Sílvia Pérez Cruz, Love Of Lesbian, Dälek ou Kodian Trio. Não podemos é escapar ao mega tributo, comissariado pelos National, aos Grateful Dead. Day of the Dead é uma obra para ir ouvindo, ao longo de todo o ano.
Junho deu para surpreender com Beyoncé e para voltar a ter esperança com os Strokes, num mês em que também passaram pela pena dos nossos escribas os novos trabalhos de Daily Misconceptions e Demoscene Time Machine.
Não podíamos concluir esta ronda pelas edições sem exultar a produção nacional, que fica pautada por trabalhos do mais fino recorte. Entre os destaques da música nacional no primeiro semestre, encontramos os Sensible Soccers, Filho da Mãe e Ricardo Martins, Peixe:Avião, Jibóia, Capitão Fausto, Medeiros/Lucas, Old Jerusalem, PAUS, Linda Martini, Samuel Úria, Senhor Vulcão, Golden Slumbers, Criatura, Zanibar Aliens, Bed Legs ou Loafing Heroes.
Quanto à segunda metade de 2016, que agora começa, várias são as razões para continuar optimista. Estão previstos novos trabalhos de gente como os Metronomy, Blood Orange, The Avalanches, Dinosaur Jr, Of Montreal, Ryley Walker, Ed Harcourt, De La Soul, Cass McCombs, Divine Comedy, Angel Olsen, Nick Cave & The Bad Seeds, Allah-Las, Phantogram, El Perro del Mar, Devendra Banhart, Van Morrison ou Beck. Não se pode dizer que seja um mau ano, discograficamente falando.