Concerto imponente de Destroyer, a subjugar-nos à sua aura, presença em palco, banda, e extraordinário repertório musical.
Carrego nas costas o peso de ser o mais acérrimo fã de Destroyer aqui neste cantinho. Numa pesquisa rápida, concluo que já escrevi críticas de seis (!) dos seus discos, e este será o segundo concerto, depois de um saudoso no Musicbox há 12 anos atrás. Preparem-se portanto para um crítica enviesada, deliciada, embevecida com o senhor Dan Bejar e a magnífica banda que o acompanha.
Entro pela primeira vez na renovada Casa Capitão (já lá tinha passado à porta de mota, agora estacionei e entrei) e está realmente bonita, seguramente será paragem de muitos dias vindouros, para concertos e não só. A sala do R/C não fica atrás do Musicbox em nada, mas com lotação esgotada a movimentação não é fácil (nem tem de ser, claro) e com distração de horas acabei por ficar mais atrás do que desejaria. Mas todo esse “incómodo” desapareceu aos primeiros acordes de “The Same Thing as Nothing at All”, e à presença de Bejar em palco, perante nós. O arranque do concerto tinha de ser o arranque de Dan’s Bogie, disco deste ano e centro natural do setlist, tendo tocado seis canções deste.
Há estudos na internet que suportam a teoria que a segunda música de um concerto, ou playlist, é um ponto crucial para reter o ouvinte. Pois bem, neste caso, os Destroyer decidiram arrebatar-me logo ali – houve pele de galinha no preciso momento em que o cérebro reconheceu “Savage Night at the Opera”, canção de Kaputt. Só para terem uma ideia do impacto deste álbum em mim, no final do concerto fiz um bold statement aos meus companheiros de noite – Kaputt não é só o meu disco preferido de Destroyer, é mesmo um dos discos da minha vida, perfeito em todos os sentidos, que me acompanha desde 2011 sem nunca me deixar mal.
Continuámos o passeio por músicas de álbuns anteriores, com “Cue Synthesizer” de Have We Met e “Tinseltown Swimming in Blood” de ken para voltar ao palco Eleanor Friedberger, responsável pela primeira parte e ex-membro dos Fiery Furnaces e cantar con Bejar “Bologna” e “Hell”, finalizando este segmento do concerto com “Sun Meets Snow”. E digo terminar este segmento não por ter havido um intervalo, apenas porque foi neste preciso momento que a banda decidiu meter uma abaixo e esmagar-nos definitivamente com uma sequência irrepreensível.
“Kaputt” permitiu-nos cantar a plenos pulmões “All sounds like a dream to me” (it really does), “Painter in Your Pocket” e “Rubies” são obscuras pérolas preciosas do catálogo de Destroyer, “Cataract Time” e “Hydroplaning Off the Edge of the World” são as melhores de Dan’s Bogie e não tenho palavras para descrever a beleza estonteante e sedutora de “Suicide Demo for Kara Walker”. A noite estava ganha, quem foi para descobrir foi conquistado, quem já ia conquistado de sorriso e brilho nos olhos ficou.
Avancei um pouco mais para o encore, e lá na frente deu para confirmar as evidências de que a banda que o suporta é incrível, cada um com o seu instrumento a tecer a manta de retalhos que são as canções de Destroyer, onde tudo se conjuga à volta do bardo Dan, do poeta Bejar, que debita versos na mesma medida crípticos e deliciosos. Fechou-se com “June” do até então esquecido LABYRINTHITIS e de barriga cheia e coração quente nos encaminhámos para a saída. A noite estava fria, mas ninguém se deixou incomodar por detalhes metereológicos. Há momentos que marcam os locais, tornando-os especiais pelas emoções ali vividas, pois bem, a Casa Capitão conseguiu fazer isso logo à primeira.
Setlist:
The Same Thing as Nothing at All
Savage Night at the Opera
Cue Synthesizer
Tinseltown Swimming in Blood
Bologna (with Eleanor Friedberger)
Hell (with Eleanor Friedberger)
Sun Meet Snow
Kaputt
Painter in Your Pocket
Rubies
Cataract Time
Hydroplaning Off the Edge of the World
Suicide Demo for Kara Walker
Encore:
Travel Light
Sun in the Sky (with Eleanor Friedberger)
June
Fotografias: Francisco Fidalgo

























