Ponto prévio – mea culpa Altamontiana do inaceitável atraso para com a publicação desta análise, de um álbum que já saiu há 3 meses. Posto isto, e acreditando na máxima que mais vale tarde que nunca, aqui ficam algumas linhas sobre Teens of Denial, forte candidato a álbum do ano.
Sabem aqueles discos que se começa a ouvir e a primeira música agarra logo à primeira audição, de tal forma que a meio da segunda, e sem pensar muito, colocamos outra vez no início para ouvir novamente a tal que vos agarrou? Saciada a vontade de repetição, lá atacamos a segunda mais relaxados e acontece o mesmo com a segunda música? E depois a partir daí, a cada audição se descobre um recanto novo, um riff que não te tinhas apercebido, um refrão com uma frase que te põe a pensar? Basicamente foi isto que me aconteceu com este Teens of Denial – um processo de descoberta constante e que ainda hoje continua. Advém daí também o constante adiamento na escrita deste texto, porque é um álbum cheio de momentos, de variações de ritmo, de músicas densas de 11 minutos, e também de explosões de energia, com Will Toledo a gritar a plenos pulmões “I give up!” por exemplo.
Voltando um pouco atrás para contextualizar quem nunca ouviu falar nestes senhores – os Car Seat Headrest são banda de um mentor, de seu nome (referido acima) Will Toledo, um jovem imberbe dos seus 23 anos, mas já com cinco anos de actividade prolífica, tendo lançado através do seu bandcamp 11 (!!) álbuns nesse espaço de tempo.
Após ter sido agarrado pela Matador Records, decidiu-se a lançar um álbum como que em registo best of desses anos – Teens of Style – lançado em Outubro de 2015. E agora sim, com editora, com banda, com condições a sério (ou seja, sem ser no banco de trás do carro dos pais que foi onde gravou grande parte do seu material inicial) conhece a luz do dia o que se pode chamar de primeiro álbum propriamente dito. Que, importa enfatizar, arrasa completamente. É sempre difícil fazer-se comparações com nomes históricos, mas correndo o risco de me atirar para fora de pé, há aqui resquícios de grandes referências da mesma Matador como Stephen Malkmus, Yo La Tengo ou Guided by Voices.
Quem teve a oportunidade de assistir ao seu concerto no Primavera Sound deste ano não pode deixar de se surpreender pela força que advém dum corpo lingrinhas com aparência de nerd deste Will Toledo, que já demonstrou em várias entrevistas uma forte maturidade, de quem já brincou tanto com a sua guitarra que se dá agora a conhecer com uma confiança incrível, pronto a conquistar o mundo.
E num mundo em que o rock alternativo é cada vez mais uma raridade, os Car Seat Headrest colocam a cabeça de fora para ocuparem o lugar de uns Arcade Fire, como que repetindo um ano de 2005 em que conquistaram Paredes de Coura e depois o mundo fora. Não acreditam? Ouçam “Fill in the Blank”, a tal primeira música mais orelhuda que tem aparecido por aí nas rádios e deixem-se conquistar. Para depois ir à ópera rock que é “The Ballad of the Costa Concordia” (parece incrível, mas sim, há americanos que ouviram falar no Costa Concordia o que só por si revela muito sobre este miúdo Toledo), ou a deleitar-se com a catarse de “Vincent” ou ainda ao sensível apelo a uma mudança radical de comportamento causa de muitas vítimas em “Drunk Drivers/Killer Whales”. E no meio disto tudo há crises de fim de adolescência, depressões, questionar o mundo (“I have nothing but questions / I need answers, those would fill me up”), tudo de uma intensidade irrepreensível. Para ouvir, ouvir e ouvir.