Chega sexta-feira e a começa a fervilhar a chegada de um dos nomes mais recheados de impacto, e também de anonimidade, da história do folk britânico. Muito já se tem dito e escrito sobre Vashti Bunyan aqui e noutros sítios para celebrar a vinda desta senhora dona de uma voz de veludo e melodias repletas de doçura, empacotadas em apenas três discos em quarenta e cinco anos. E como não podia deixar de ser, chega a inevitável oferta da que é considerada a sua obra-prima maior.
“Diamond Day” abre o disco com (quase) o mesmo nome, lançado em 1970, para braços nenhuns; um disco que passou despercebido ao grande e pequeno público, que só o espreitou volvidas décadas e décadas para por ele se apaixonar. É apenas uma das várias melodias que Vashti escreveu numa mítica viagem pela Escócia após o desanimo com a falta de sucesso nos Estados Unidos, que vieram a completar o pequeno álbum. Uma verdadeira prenda – uma letra mundana, simples, um encolher de ombros de sorriso na boca aos dias que se transformam em semanas, meses, anos. É com um bucolismo de Caeiro e uma voz de ninfa que Vashti retrata “apenas mais um dia” que passa por ela suavemente. O seu timbre soprado, melancólico e instantaneamente reconhecível mergulha na guitarra que nos embala ao sabor do passar do tempo. Embrulhado numa doçura que apenas Vashti nos conseguiria entregar – e entrega. É tão bom quando sexta-feira chega, principalmente com a promessa de mais tarde ver com os nossos olhos uma prenda destas a tocar-nos uma mão-cheia de músicas carinhosas numa sala de Lisboa.